Documentos na internet e a sociedade da exposição

O conceito de documento já mudou. Ele não precisa mais ser de papel nem ter assinatura manuscrita. Isso não é novidade. No cenário empresarial, os documentos circulam livremente, internamente e externamente. O que mais nos preocupa, no entanto, é a circulação descontrolada fora da empresa, ou seja, o vazamento de informações corporativas. Todos nós sabemos que a informação é algo de extremo valor para as instituições. O mais recente exemplo, se não o maior, é o do site WikiLeaks, que há um bom tempo vem publicando posts de fontes anônimas, com documentos, fotos e informações confidenciais vazadas de governos, pessoas públicas e de importantes corporações. 

[private] Estima-se que em 2007 o WikiLeaks continha mais de 1,2 milhão de documentos. Em 2010, o site informou que divulgaria uma quantidade sete vezes maior. Em julho de 2010, o site publicou cerca de 77 mil documentos secretos sobre um determinado assunto. É uma explosão de informação.

Assim, a sociedade tecnológica vem produzindo uma revolução: a sociedade da exposição, pois nunca se esteve tão exposto por meio de equipamentos e mecanismos eletrônicos ou digitais. Sabe-se por exemplo que, caso todas as páginas existentes na internet fossem impressas, reunidas em livros, e os volumes fossem enfileirados, o resultado seria uma estante de 50 mil quilômetros. Outro bom exemplo é a estimativa de 7 milhões de câmeras de circuito interno espalhadas pelos espaços públicos no mundo, sem contabilizar as instaladas em espaços privados.

Em 2007, eram postadas 6 horas de vídeo por minuto no YouTube. Já em 2009, o site recebia 20 horas de uploads por minuto. Algo inimaginável em tempos não muito remotos. Isso será cada vez maior, pois câmeras estão cada vez mais baratas e capazes de capturar imagens (fotos e vídeos) com melhor qualidade. Assim, pode-se divulgar teoricamente qualquer conteúdo. Ao pesquisar na internet  pelo “contador de visitas”, tem-se um retorno de aproximadamente 32,8 milhões de resultados.

Em tempos remotos, as pessoas iam às praças públicas para bradar e expor suas idéias, protestos, pensamentos. E, ao redor delas, formava-se um aglomerado de interessados. Observa-se que isso não mudou. O que mudou foi o meio. É a democracia 2.0 que derruba governos, suscita problemas políticos, econômicos, diplomáticos e de segurança pública, entre outros.

Afinal, o foco está na mudança, na velocidade e na urgência com que a sociedade atual vive, se relaciona, trabalha, consome e paga suas contas com o auxílio da tecnologia. Portanto, a informação é o bem mais valorado e almejado e é necessário zelar por ele. Marcos Flávio Assunção, autodenominado “hacker ético” e considerado uma das maiores autoridades em segurança da informação, relata que fez uma experiência em uma empresa farmacêutica que o contratou. Deixou um CD no chão do elevador da sede e apertou o botão do último andar. Nele estava escrito: “Fotos do chefe na praia”. Em apenas cinco minutos detectou a infecção de vírus que colocou no CD. Sem dúvida, a curiosidade humana é a melhor porta de entrada para sistemas.

A propósito, a segurança da informação chama isso de “engenharia social”, que é o subterfúgio usado pelos golpistas por meio da enganação, exploração da inocência, curiosidade ou ganância das pessoas. Vimos isso diariamente em infindáveis correntes de e-mails, desde religiosos, avisos de questões de segurança, ajuda a pais desesperados atrás de seus filhos, fotos da recente tragédia e assim por diante. A inocência que não se tem na rua aparece na web, principalmente nos novos usuários.

Uma das vertentes mais emblemáticas da falta de bom senso e ética profissional é o envio de spams. Neste caso está valendo o conceito de que uma mentira contada milhares de vezes acaba se tornando uma verdade. É incrível como empresas e organizações de renome caem na armadilha de seus marqueteiros de que existe, sim, legalidade e ética no envio de mensagens indiscriminadas a endereços obtidos por meios, no mínimo, imorais, afirmando e pensando que há até mesmo uma “lei” já aprovada dispondo a respeito!

A verdade é que raros são aqueles que se encontram preparados para o ambiente digital. Investe-se bilhões em sistemas de segurança que acabam vulneráveis pela falta de aculturação com o meio eletrônico. O homem ainda não acompanha a evolução da nova era da comunicação. A vaidade, o ego, o narcisismo e a eterna busca de riqueza afloram e são potencializados pela web, colocando em sério risco a segurança dos documentos digitais. [/private]

 

* Texto escrito por Angelo Volpi, é tabelião em Curitiba, escritor, articulista e consultor e Cinthia A. Freitas, Professora Titular da PUCPR e Doutora em Informática.

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