Empresas devem investir em ECM

Nos último três anos, a rotina de Leandro Fachin Balbinot, diretor de tecnologia da informação e gestão das Lojas Renner, tem sido especialmente movimentada. A rede varejista, segunda maior loja de departamento de vestuário do Brasil – atrás apenas da C&A – imprimiu ritmo frenético à sua estratégia de expansão, tanto no mundo físico quanto no virtual. A ordem é aproveitar o contínuo vigor da economia brasileira, que se reflete positivamente no setor como um todo. No ano passado, a Renner inaugurou 14 lojas, um esforço que consumiu investimentos da ordem de R$ 87,8 milhões apenas com remodelações, logística, equipamentos e sistemas de tecnologia. Não parou por aí. Este ano, a meta do grupo é acrescentar 30 unidades a uma malha que, em julho último, já somava 144 lojas espalhadas pelo país, além de site de vendas eletrônicas. A meta é chegar em 2014 com 250 unidades em operação.

Começamos a implantar o conceito da Loja sem papel em 2010 e este ano houve a expansão para toda a Rede Renner

[private] A Balbinot e à sua equipe, cabe a tarefa de dotar a empresa com tecnologia da informação totalmente alinhada com esses planos e, ao mesmo tempo, robusta, moderna e flexível o suficiente para suportar um negócio sujeito a “picos e vales” e altamente dependente de gestão da informação e de inteligência estratégica. O desafio é considerável, basta observar outros números que dimensionam a corporação. A rede fechou 2010 com faturamento de R$ 3 bilhões e prateleiras recheadas com 25 mil produtos diferentes, com destaque para 15 marcas próprias de vestuário, além de calçados, cosméticos e outros itens. O quadro funcional superou 12.400 funcionários e o seu público, formado preferencialmente por mulheres de 18 a 39 anos com bom poder aquisitivo, acessou em média 1,8 milhão de vezes por mês o endereço online da empresa, e fez compras valendo-se de cerca de 17 milhões de cartões Renner.

A empresa atua fortemente nas redes sociais e nas ações interativas. Tornou-se case de referência no uso pioneiro de tecnologias de cloud computing em parceria com marcas de peso, como Google e Oracle. A aposta da TI da Renner na nuvem foi a solução encontrada para suportar o crescimento acelerado, sem risco de gargalos no meio do caminho devido a eventuais limitações tecnológicas. Sobre esses temas, e sobre a importância que a corporação atribui ao conceito de gestão de conteúdo empresarial, Balbinot falou com exclusividade para a Document Managament.

Document Management : Qual a importância da gestão de conteúdo empresarial (ECM) no segmento varejista?
Leandro Balbinot:
O conceito de ECM se tornou importante para todos os negócios atualmente, independentemente do segmento econômico. Todas as empresas deveriam investir nessa área. Nós, aqui na Renner, estamos investindo bastante nisso. Mas não temos visto isso ser feito em outras companhias do setor. Observamos que muitas ainda não passaram da fase de implementação dos seus sistemas de gestão empresarial e não alcançaram o patamar de investimentos em gestão de conteúdo. Mas acredito que isso é só uma questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde, todas terão de apostar no conceito. A recomendação é que o varejo busque avançar nas boas práticas olhando para além de si mesmo, para outras empresas e indústrias, dentro e fora do país. É o que fazemos. A Renner atingiu estágio de maturidade no uso de TI similar a redes varejistas que mais avançaram nessa área no mundo.

DM: Como a área de tecnologia da informação da Renner está organizada em termos de sistemas e ferramentas para gestão de conteúdo empresarial (ECM)?
L.B.: No que se refere a dados não estruturados, investimos no Google Apps como plataforma para a base de conhecimento e colaboração, e passamos a contar com todos os recursos básicos que compõem o conceito de ECM (Google Apps é um conjunto aplicativos como e-mail, compartilhamento de agendas, mensagem instantânea, voz sobre IP, vídeo, hospedagem e colaboração de documentos online, e criação e publicação de site, entre outros recursos). Tornamo-nos um case de referência do Google no que se refere à exploração da nuvem para colaboração interna, desenvolvimento de sites e melhor utilização de mídias sociais. Esse acordo, selado em 2009, foi o primeiro passo na nossa estratégia de adoção do cloud computing. E começou com aplicações de rotina, não estratégicas ou críticas para o negócio, como correio eletrônico e gestão de projetos, além de ferramentas de colaboração. A estratégia avançou com a adoção recente de tecnologias de nuvem da Oracle.

 

DM: No que consiste a parceria em cloud computing com a Oracle e como afeta a gestão das informações geradas na empresa?
L.B.: A parceria da Oracle com a Renner começou há oito anos e vem se expandindo. O acordo mais recente resultou na migração dos dados para o ambiente de nuvem Oracle On Demand. O objetivo é aperfeiçoar o gerenciamento de informações de clientes e produtos, incrementar a integração de processos e ganhar flexibilidade e elasticidade de infraestrutura necessárias para que possamos crescer da noite para o dia, quando a demanda assim o exigir. Além disso, o modelo torna mais fácil a integração de negócios em eventuais processos de fusões e aquisições, e também nos dá acesso aos melhores recursos da Oracle sempre que necessário, onde quer que eles estejam no mundo. Anteriormente, a parceria com a Oracle já havia se consolidado com a aquisição do ERP Oracle E-Business Suíte e do Oracle Retail Systems (plataforma integrada que abrange merchandising, cadeia de suprimentos e operações de loja), que deixaram a empresa preparada para o crescimento organizacional previsto.

DM: Essa estratégia de investimentos em cloud computing terá outros desdobramentos que podem impactar a gestão de conteúdo e documentos da empresa?
L.B.: Sim, pensamos em desdobramentos, e não só com tecnologia Oracle. Estamos permanentemente de olho em opções de cloud computing que possam ser aplicadas às necessidades da empresa, inclusive na área de ECM. Estamos na expectativa, por exemplo, das interfaces de redes sociais internas do Google e também acompanhamos o que acontece nessa área entre outros parceiros. A probabilidade é que migremos outros ambientes para a nuvem. O modelo nos permite foco no negócio, permite-nos crescer de forma variável e sob demanda nos momentos de pico, como o Natal, por exemplo, quando ocorrem grandes aumentos de vendas. Paralelamente, também investimos em soluções de inteligência do negócio e relacionamento para conhecimento mais eficaz e fidelização da clientela.

DM: Por falar em inteligência do negócio, na parceria Renner/Oracle para nuvem, é mencionada a tecnologia de BI Oracle Essbase usada para integrar informações de clientes e produtos. Que informações são essas?
L.B.:
A Renner tem duas bases de dados grandes. Uma reúne informações de cerca de 18 milhões de clientes. A outra se refere a dados de 2,5 milhões de produtos/ano cadastrados, além das transações diárias. Trata-se de volume tão considerável de dados e informações que impossibilita sua análise diária, sob várias dimensões, por meio de estruturas convencionais. A base única e a tecnologia Oracle Exadata solucionam essa questão (Oracle Exadata são appliances que funcionam como um datacenter completo, com servidor de dados, storage e rede integrados). A integridade de informações da companhia também foi incrementada com a implantação do ambiente de arquitetura orientada a serviço, SOA. (Oracle Essbase, que integra os avanços da Renner na nuvem, é um servidor do tipo online analytical processing-OLAP que permite, entre outros recursos, ambiente para desenvolvimento rápido de aplicações analíticas e customizadas para gerenciamento de performance dos negócios e modelagem de cenários complexos de negócios).

DM: Qual a estratégia da Renner para gerenciar e integrar as informações oriundas de mídias sociais com aquelas originadas nos sistemas da empresa?
L.B.: Atualmente, o foco da Lojas Renner é justamente a integração de documentos não estruturados com os estruturados, como informações sobre vendas, fornecedores, produtos etc. Temos nos empenhado em uma série de iniciativas para juntar tudo em um modelo que se caracteriza por base única e mesmo tipo de acesso. A plataforma que estamos desenvolvendo conta com a alta performance do Oracle Exadata para processamento de grande volume de dados. Isso possibilita flexibilidade para crescer e reagir ao mercado com muito mais simplicidade, praticidade e velocidade. Tarefas que levavam horas passam a ser feitas em minutos.

DM: Quais os esforços da Renner na área de digitalização e redução de documentos físicos que circulam na organização?
L.B.:
Começamos a implementar o conceito de loja sem papel em 2010 e este ano houve a expansão para toda a rede Renner. O projeto incluiu a instalação de dois equipamentos de digitalização em cada uma das 144 lojas espalhadas pelo Brasil inteiro. Já estão sendo escaneados, por exemplo, no próprio ambiente da loja, toda a documentação fornecida pelos clientes para processo de análise para concessão de crédito, como comprovante de renda e outros documentos, o que agilizou muito o processo.

DM: A área de tecnologia da informação das Lojas Renner enfrenta alguma dificuldade para contratar ou qualificar profissionais especializados que auxiliem na consolidação do conceito de ECM na empresa?
L.B.:
Não, porque contamos com os recursos altamente especializados dos nossos parceiros tecnológicos e de serviços. Além disso, internamente, é o setor de normas e procedimentos da companhia que atualmente mais exige pessoal qualificado na área de gestão de documentos.

DM: Quais são, na sua opinião, os principais desafios que as empresas enfrentam para consolidar os conceitos de gestão de documentos e de conteúdo empresarial em suas operações?
L.B.:
Um grande desafio ainda é a classificação das informações, a criação de categorias, a identificação do que é confidencial ou não, a definição de diretrizes e sua atualização, enfim, coisas dessa natureza. E trazer tudo isso para a plataforma de gestão do conhecimento. [/private]

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