Analistas avaliam os rumos da TI no Gartner Symposium/ITxpo 2013

Aconteceu ontem em São Paulo, um encontro com os principais analistas do  Gartner durante o Gartner Sumposium/ITxpo 2013, onde os especialistas  revelaram as principais previsões para as organizações e usuários de TI para 2014 em diante. Elas combinam vários temas revolucionários – a Revolução Industrial Digital, Negócios Digitais, Máquinas Inteligentes e a Internet das Coisas –, que estão prontos para causar impacto além da TI.Val Sribar

“A pesquisa de 2013 do Gartner com os CEOs indica que eles acham que as incertezas de negócios estão diminuindo e, mesmo assim, os CIOs acordam todos os dias num mundo de incerteza e mudança tecnológica”, afirma Ken McGee, vice-presidente do Gartner. “O CIO experiente fará com que seu CEO reconheça as mudanças causadas pelos deslocamentos revolucionários que chegam a ritmo acelerado e com um impacto global”, diz McGree.

 

Presentes no encontro o vice presidente do Gartner, Val Scribar,  apresentou as principais conclusões, oriundas dos estudos que a empresa tem feito em todo o mundo. As dez principais previsões do Gartner são subdivididas nas quatro categorias a seguir:

 

            1. Revolução Industrial Digital – A TI não se resume mais à função de TI. Em vez disso, TI passou a ser o catalisador da próxima fase de inovação nos ecossistemas pessoais e de negócios competitivos. Isso evidencia o início da Revolução Industrial Digital, que ameaça remodelar a maneira como os produtos físicos são criados por meio da impressão 3D.

 

            Em 2018, a impressão em 3D causará a perda de pelo menos US$ 100 bilhões por ano de propriedade intelectual, em âmbito mundial.

            A curto prazo: Em 2015, pelo menos uma grande empresa ocidental vai afirmar que a propriedade intelectual (PI) de um de seus produtos importantes foi roubada por ladrões usando impressoras 3D e que, provavelmente, residirão nesses mesmos mercados ocidentais, e não na Ásia.

A queda vertiginosa dos custos das impressoras, dos scanners 3D e da tecnologia de modelagem 3D, aliada à melhoria dos recursos, torna a tecnologia para o roubo da propriedade intelectual mais acessível aos possíveis criminosos. É importante ressaltar que as impressoras 3D não precisam produzir um produto acabado para permitir o roubo. A capacidade de fazer um molde de cera de um objeto digitalizado, por exemplo, pode permitir que o ladrão produza grandes quantidades de itens que reproduzem, fielmente, o original.

 

            Em 2016, a impressão 3D de tecidos e órgãos (bioimpressão) provocará o debate mundial sobre a regulamentação da tecnologia ou sobre sua proibição para uso humano e não humano.

            A curto prazo: A FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos) dos EUA ou um órgão semelhante de uma nação desenvolvida, com a função de avaliar todas as propostas médicas, apresentará diretrizes que proíbem a bioimpressão em 3D de órgãos e tecidos para salvar vidas, sem aprovação prévia, até o final de 2015.

A bioimpressão é a aplicação médica das impressoras 3D para produzir tecidos vivos e órgãos. O dia em que órgãos humanos bioimpressos em 3D estarão facilmente disponíveis está se aproximando. O surgimento de instalações de bioimpressão em 3D com a capacidade de imprimir órgãos humanos farão com que as pessoas pensem no efeito disso na sociedade. Para além dessas questões, no entanto, existe a realidade de que a bioimpressão em 3D representa a possibilidade de ajudar pessoas que precisam de órgãos que, de outra forma, não estão facilmente à disposição.

 

            2. Negócios Digitais Negócios Digitais são negócios criados por meio de recursos e/ou capacidades digitais, envolvendo produtos digitais, serviços e/ou experiências de clientes, e/ou realizados pelos canais e comunidades digitais. As previsões do Gartner sobre negócios digitais se concentram no efeito que os negócios digitais terão sobre a redução de mão-de-obra, as receitas dos bens de consumo e o uso de dados pessoais. Embora não contemplem a soma total dos negócios digitais, elas destacam as críticas de impacto em médio e longo prazo.

            Em 2017, mais da metade dos fabricantes de bens de consumo receberão 75% dos seus recursos de P&D e inovação para consumidores de soluções provenientes de crowdsourcing.

            A curto prazo: Em 2015, as empresas de bens de consumo que utilizam soluções de crowdsourcing em campanhas de marketing ou no desenvolvimento de novos produtos terão um aumento de 1% da receita em relação aos concorrentes que não usam crowdsourcing.

Os engenheiros, cientistas, profissionais de TI e de marketing das empresas de bens de consumo estão engajando multidões de maneira muito mais arrojada e usando canais digitais com frequência cada vez maior para atingir um grupo grande e mais anônimo de inteligência e opinião. O Gartner observa uma enorme mudança no sentido de aplicações de crowdsourcing que utilizam tecnologia, tais como: publicidade, comunidades on-line, resolução de problemas científicos, ideias internas para novos produtos e produtos criados pelo consumidor.

 

            Em 2020, o efeito da redução de postos de trabalho causada pela digitalização provocará agitação social e a busca por novos modelos econômicos em diversas economias maduras.

            A curto prazo: Uma versão em maior escala de um movimento do tipo “Occupy Wall Street” começará até o final de 2014, o que indica que a agitação social começará a promover o debate político.

A digitalização significa a redução de postos de trabalho para serviços e produtos de uma forma nunca vista, mudando fundamentalmente, dessa forma, a maneira como a remuneração é distribuída entre a mão-de-obra e o capital. A longo prazo, isso fará com que seja impossível, para grupos cada vez maiores, participar do sistema econômico tradicional – mesmo a preços mais baixos – levando-os a procurar alternativas, como uma (sub)sociedade baseada em permuta, incitando um retorno ao protecionismo ou a ressurreição de iniciativas como “Occupy Wall Street”, mas em escala muito maior. As economias maduras sofrerão mais, pois não contam com o crescimento populacional para aumentar a demanda autônoma, nem sindicatos ou partidos políticos suficientemente poderosos para (re)distribuir os ganhos no que continuará sendo uma economia global.

 

            Em 2017, 80% dos consumidores coletarão, acompanharão e trocarão os seus dados pessoais por redução de custos, praticidade e personalização.

            A curto prazo: O número de leilões de dados pessoais com base em sites de crowdfunding aumentará em percentagens de três dígitos até o final de 2014.

O aumento da consciência dos consumidores sobre práticas de coleta de dados preparou o terreno para oferecer a eles mais controle sobre o uso dos dados pessoais – coletados, tanto na Internet como fora dela. Como o crescimento da demanda e da escassez aumentarão o valor desses dados, crescerão também os incentivos para que os consumidores os compartilhem voluntariamente. Enquanto isso, o interesse do consumidor em acompanhar seus dados também indica que eles estão investindo mais tempo e energia na coleta de dados sobre si mesmos. Eles consideram esses dados cada vez mais essenciais para uma melhora de vida, o que pode ser coerente com a ideia de negociá-los sob as circunstâncias corretas.

 

            Em 2020, as empresas e os governos não conseguirão proteger 75% dos dados sigilosos, quebrando o sigilo e concedendo acesso amplo/público a eles.

            A curto prazo: Em 2015, ocorrerá pelo menos mais um episódio “Snowden” ou “WikiLeaks”, o que indica uma tendência crescente de que as empresas e os governos reconheçam sua incapacidade de proteger todas as informações sigilosas.

A quantidade de dados armazenados e utilizados pelas empresas e pelos governos está crescendo exponencialmente. Por isso, qualquer tentativa de proteger todos eles é irreal. Em vez de enfrentar uma enorme tarefa de protegê-los, as empresas e os governos se concentrarão em cuidar muito bem apenas uma pequena parte deles. A sociedade, em geral, também ganhará com essa abordagem, pois poderá estabelecer um controle melhor sobre o governo e as empresas, evitando os abusos de poder e gerando mais confiança.

 

            3. Máquinas Inteligentes – O surgimento das máquinas inteligentes aumentará as oportunidades e o medo dos “sistemas conscientes e cognitivos”, podendo aprimorar os processos e a tomada de decisões, mas, também, pode eliminar a necessidade dos seres humanos no processo e no trabalho decisório. Os CIOs verão isso como um meio de gerar mais eficiência, mas precisarão atingir um equilíbrio entre a mão-de-obra humana ativa e a fria eficiência de máquinas capazes de aprender.

            Em 2024, pelo menos 10% das atividades potencialmente prejudiciais à vida humana exigirão o uso obrigatório de um “sistema inteligente”, cujo controle não possa ser assumido externamente.

            A curto prazo: Até 2014, haverá o aumento de automóveis com preços econômicos e tecnologia de “auxílio automatizado” agregada ao equipamento de série, como um indicador de adoção.

A crescente implantação de “sistemas inteligentes”, capazes de gerar resposta automática a eventos externos está sendo aumentada, mas permanece uma profunda resistência de eliminar a opção pela intervenção humana. A capacidade, confiabilidade e a disponibilidade de tecnologias apropriadas não são o problema. O problema é a disposição da população em geral em aceitar a implementação generalizada inicial e o aumento da retirada das opções de controle manual.

 

            Em 2020, a maioria dos planos de carreira de profissionais do conhecimento será perturbada de maneiras positivas e negativas pelas máquinas inteligentes.

A curto prazo: O uso de assistentes pessoais virtuais nas empresas aumentará rapidamente em 2017 e 2018 do que aumentou o uso do iPad em 2010 e 2011.

O Gartner prevê que as máquinas inteligentes derrubarão a maioria dos planos de carreira dos profissionais do conhecimento em 2020. Elas se comportam de maneira autônoma, adaptando-se a seu ambiente. Elas aprendem com os resultados, criam suas próprias regras e buscam ou solicitam mais dados para testar hipóteses. Elas são capazes de detectar novas situações, muitas vezes com muito mais rapidez e precisão do que as pessoas. Os profissionais de TI precisam reconhecer que as máquinas inteligentes podem criar vantagens competitivas substanciais, bem como negócios inteiramente novos.

 

            Em 2017, 10% dos computadores aprenderão em vez de processar.

            A curto prazo: Em 2014, o número de aplicativos de reconhecimento de fala usados em algoritmos de redes neurais profundas dobrará.

Os métodos de aprendizagem profunda, baseados em redes neurais profundas, estão sendo aplicados em sistemas de reconhecimento de fala, bem como em algumas aplicações de reconhecimento de objetos. A qualidade de vida melhorará quando a sociedade for capaz de extrair informações úteis das quantidades enormes de dados não estruturados reunidos na Internet. A conseqüência mais importante de um computador que aprende é que ele gasta muito menos energia para reconhecer padrões mais complexos.

 

            4. Internet das Coisas – A Internet das Coisas solidifica a conexão entre máquinas, pessoas e interações de negócios na era moderna. Com o advento dos dispositivos extremamente conectados, as empresas, os governos e as pessoas passaram a ter acesso a mais informações sobre si mesmas e seu ambiente, do que sobre as quais podem efetivamente agir. A previsão do Gartner se concentra na oportunidade de criar aplicações e serviços capazes de usar essas informações para criar novos modelos de engajamento para os clientes, funcionários e parceiros, e para promover um novo conjunto de modelos de negócios e de marketing que tornem a palavra “envolvimento” um patrimônio realmente valioso.

 

            Em 2020, os dados de consumidores coletados a partir de dispositivos “vestíveis” gerarão 5% das vendas das 1.000 maiores empresas do mundo.

            A curto prazo: O número de aplicativos de smartphones que pedem para compartilhar dados dos consumidores dobrará em 2015, indicando um aumento no número de comerciantes ou proprietários que buscam acesso aos dados de perfil dos clientes.

A computação “para vestir” está entrando rapidamente na sociedade em geral, liderada pelos mercados crescentes e multibilionários da saúde e da boa forma. Em cinco anos, esses dispositivos para o consumidor ficarão mais sofisticados, captando o que o usuário vê, ouve ou até mesmo sente, por meio de respostas biorrítmicas. Os obstáculos técnicos que emperraram a adoção deles (duração da bateria, realidade aumentada, evolução dos chips e banda larga) estão desaparecendo rapidamente, abrindo as portas para mentes criativas determinadas a explorar essa tecnologia para fins comerciais, como ficou evidenciado pelos consideráveis investimentos da Samsung, Google, Apple e Microsoft, nesse tipo de tecnologia.

“Embora possa parecer que alguns desses tópicos não afetarão diretamente a função de TI, devemos aceitar a ideia de que, hoje, a TI faz parte de tudo”, afirma McGee. “Com a mudança na estrutura das empresas e dos setores de atividade, os sistemas de TI, por trás deles, mudarão, assim como as habilidades, os processos e os controles necessários para mantê-los funcionando. O dia em que a arquitetura da computação de impressão 3D existirá está próximo e, talvez, não estejam distantes dos dias em que os negócios digitais, as máquinas inteligentes ou a Internet das Coisas vão mudar o que são os computadores”.

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