Inteligência Artificial (IA) é o assunto do momento. Cada um de nós frequentemente ouvimos falar, lemos sobre o tema e utilizamos, de forma consciente ou não, recursos de IA no nosso cotidiano.
Quem ainda não foi "invadido" em uma fila de supermercado por ofertas sobre a ultima novidade em televisores dotados de inteligência artificial?
As opções de smart tvs com IA estão cada vez mais disponíveis no mercado, prometendo melhorar ainda mais os aparelhos com recursos que aumentam a qualidade de som e imagem, garantindo melhor acesso, agilidade e até a maneira que você assiste aos seus programas preferidos!
Este exemplo corriqueiro revela como a IA está presente no nosso dia a dia, criando no imaginário popular sentimentos ambíguos e conflitantes: muitos falam dela como uma nova utopia fadada a curar ou remediar todos (ou a maior parte) dos problemas do mundo, outros a vêem como uma ameaça de um futuro de desgraça e tristeza onde os robôs ocupam nossos empregos.
No inicio de 2019 o chinês Kai-Fu Lee, investidor e especialista em IA, afirmou que nos próximos 15 anos, 40% dos empregos do mundo poderão ser realizados por máquinas. “A inteligência artificial irá cada vez mais substituir os trabalhos repetitivos, não apenas o trabalho braçal, mas também o intelectual”, disse ele.
Mas ao publicar recentemente o livro Inteligência Artificial o autor não fala só dos temores quanto ao futuro dos empregos e dos seres humanos no mundo da inteligência artificial: "há uma sabedoria humana que sempre supera as revoluções tecnológicas…a invenção do motor a vapor e da eletricidade também ameaçaram os empregos, mas nós superamos isso".
Mas o desafio com a IA é que ela irá gerar transformações de forma muito mais rápida e com efeitos de maior impacto na sociedade e nas pessoas do que nas situações precedentes. Neste sentido o autor nos instiga a pensar sobre algumas questões logo na introdução da sua obra:
Os grandes avanços teóricos em IA tem finalmente produzido aplicações práticas em ampla escala que estão prestes a mudar nossas vidas;
Nós nos perguntamos se a IA poderá nos levar a uma vida de abundância material e se há espaço para a humanidade em um mundo dirigido por máquinas inteligentes;
Queremos saber quais pessoas e países se beneficiarão dessa tremenda tecnologia e como isso se tornará concreto.
Com a IA se aproximando bastante nos nossos dias de uma hype cycle, sempre existirá um enorme risco que se busquem soluções para justificar o uso da tecnologia ao invés de buscar soluções para resolver problemas reais e efetivos.
Como os recursos humanos relacionados às tecnologias de IA são caros e escassos, tanto para uso no âmbito das empresas como nas aplicações em benefício da sociedade, há que se adotar uma postura bastante cautelosa na exploração e uso dos mesmos.
Aonde queremos chegar? Esta é uma regra básica do planejamento estratégico que não é nova. Mas que torna-se cada vez mais imperativa em situações onde o futuro é incerto e muda rapidamente, como nas inovações decorrentes das tecnologias emergentes como a IA.
Nesta linha ainda Kai-Fu Lee nos propõe um cenário das quatro ondas da inteligência artificial, que pode ajudar os governos e empresas a planejar seus esforços nesta direção:
A primeira onda é a aplicação da IA na internet: "começou há quase quinze anos, tem em grande parte a ver com o uso de algoritmos de IA como motores de recomendação e sistemas que aprendem nossas preferências pessoais e veiculam conteúdos escolhidos a dedo para nós", entre outros,e já está disponível para todos;
A segunda onda é a da inteligência de negócios: "tira proveito do fato que as empresas tradicionais etiquetaram automaticamente enormes quantidades de dados por décadas, e agora fazem uso desse big data para descobrir correlações ocultas que muitas vezes escapam ao olho nu e ao cérebro humano";
A terceira onda é a da inteligência de percepção, "onde os algoritmos agora podem agrupar os pixels de uma foto ou vídeo em grupos significativos e reconhecer objetos da mesma maneira que nosso cérebro., potencializando o conhecimento do mundo ao nosso redor por meio da proliferação de sensores e dispositivos inteligentes";
A quarta onda é a da IA autônoma, "representando a integração e a culminação das três ondas anteriores, produzindo máquinas que não apenas compreendem o mundo ao seu redor — elas conseguem moldá-lo".
No momento em que os Estados Unidos e a China se distanciam cada vez mais dos demais países em termos de investimentos nas tecnologias de IA, torna-se oportuna a recente iniciativa de apoio à criação dos Centros de Pesquisa Aplicada (CPA) em Inteligência Artificial proposta pelo nosso Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
O modelo de formulação de cenários de desenvolvimento e uso da IA baseados nas quatro ondas pode ser uma contribuição importante para conferir objetividade e efetividade ao funcionamento dos CPA em IA.
[author] [author_image timthumb='on']https://docmanagement.com.br/wp-content/uploads/2017/02/newton-thumbnail.jpg[/author_image] [author_info]Newton Fleury
Autor, consultor e professor com foco em inovação e estratégia, processos de negócio, gestão da informação e do conhecimento e tecnologias de apoio à gestão.[/author_info] [/author]