Conciliar a privacidade de dados e a cultura data driven é o principal desafio das organizações

Conciliar a privacidade de dados e a cultura data driven é o principal desafio das organizações

O Brasil passa por um momento singular de evolução para uma verdadeira mudança cultural na privacidade de dados, com aumento de empresas "data driven", que utilizam "big data" para a tomada de decisões estratégicas

Os dados pessoais são considerados o "novo petróleo" do mundo e devem ser guardados a sete chaves. Nesse contexto, o grande desafio é conciliar a enxurrada de informações coletadas com a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A norma altera a coleta, armazenamento e o processamento de informações. O webinar Arena de Ideias transmitido nesta quinta-feira (28), pela In Press Oficina, discutiu a necessidade das organizações se adaptarem à cultura "data driven" na era da privacidade de dados e a importância da comunicação e educação digital

"Hoje, não existe mais jornalismo sem análise de dados e nem mais o ‘fazer negócios’ sem análise de dados. É impossível interpretar qualquer cenário e fazer qualquer prognóstico sem dados", afirma a jornalista e sócia-diretora da In Press Oficina, Patrícia Marins

Para o advogado e especialista em Direito Digital, Fabrício da Mota, a discussão sobre o uso e privacidade de dados ainda está em estágio inicial no Brasil e tem muito espaço para avançar. "Isso tudo faz parte de um amadurecimento do cidadão e da sociedade de modo geral. O direito à privacidade surgiu há pouquíssimo tempo, há 130 anos que surgiu essa percepção que temos o direito de ter nossa vida privada protegida", explica Fabrício.

Diante deste cenário recente sobre a privacidade e uso de dados, o CMO da Data Driven Organization e Head de Comunicação da consultoria de dados BIX Tecnologia, Luiz Gabriel Braun, avalia que a LGPD é o primeiro passo para normatizar essa relação. Entretanto, ele defende que além da legislação é fundamental a educação digital do cidadão brasileiro.

"É importante existir a lei, mas ela só vai ser efetiva se a gente tiver um passo de educação das pessoas. Não é apenas sobre aprender a programar, é entender, de fato, como esses dados são coletados, manipulados e qual é o risco a que a gente corre ao fornecer esses dados. O Brasil é muito digitalizado, mas há uma dualidade", ressalta Braun.

Entre as empresas brasileiras que utilizam os dados para a tomada de decisões estratégicas, Braun destaca Magazine Luiza e Pão de Açúcar. Mas ainda é preciso evoluir nessa direção. "Pesquisa de 2019 mapeou que apenas 4% das empresas que fazem uso de TI utilizam uso de big data. É um indicador de como nós poderíamos usar mais todo o potencial dos dados", diz.

Para Patrícia, diante de imensidão de dados existentes atualmente, o ‘x’ da questão é como utilizá-los de maneira assertiva. "A extração da inteligência de dados tem que vir a partir do momento em que se entender essa cultura", pontuou.

Mega vazamento de dados é o primeiro desafio da ANPD

Nas últimas semanas o Brasil vivenciou o maior vazamento de dados que se tem conhecimento no país. Foram vazadas informações pessoais de 223 milhões de brasileiros, incluindo nomes, CPFs, imposto de renda e endereços. Para Fabrício da Mota, o episódio é o primeiro grande desafio da ANPD, instituída em novembro do ano passado com a atribuição de zelar pela proteção dos dados pessoais e cumprimento da LGPD.

"É o primeiro teste de fogo para a ANPD e de fato ela vai ser testada. Temos que ter a percepção que situações como essa são graves. Ela sabe qual o score de crédito de cada um de nós, nossa condição econômica, situação fiscal, nome, CPF, endereço. Essa base de dados é um manual para dar um golpe", explica.

A LGPD prevê diversos tipos de punição para o vazamento de dados, desde advertência até multa de 2% do faturamento anual da empresa, limitada a R﹩ 50 milhões. No entanto, as punições passarão a valer somente a partir de agosto.

Share This Post

Post Comment