A origem da escrita: parte 1

Não se pode escrever sobre a evolução humana sem estudar ou mencionar o desenvolvimento da escrita e a evolução dos documentos ao longo da história. Muitas vezes não nos preocupamos com esta evolução, pois simplesmente fazemos parte dela ou tentamos nos adaptar a ela. Assim, nos três artigos que se seguem entenderemos como esses desenvolvimentos permitiram ao homem sair da caverna e de seus registros em pedras, chegando ao documento eletrônico. 

[private] A história da escrita delineia sua evolução a partir das escritas pictóricas, das escritas ideográficas e das escritas alfabéticas. A escrita pictórica caracteriza-se por meio de desenhos ou pictogramas, por exemplo, para indicar “água” utilizava-se duas linhas onduladas. Este tipo de escrita aparece em inscrições antigas, tendo como exemplos os cantos Ojibwa da América do Norte, o catecismo asteca e mais recentemente a estória em quadrinhos. A escrita ideográfica baseia-se no uso de desenhos especiais chamados ideogramas, os quais têm por princípio representar só o significado, referindo-se a um pensamento não necessariamente de natureza linguística.

Os desenhos foram trocados por símbolos que permitissem representar palavras de comunicação mais complexas. Neste caso, o sinal para “boca” passou a representar também “falar”. Surgiram então as combinações de símbolos, onde “boca” + “água” designava “beber”. Nesta época eram utilizados como suporte a argila, que era barata e de fácil acesso, ossos e pedras.

Ao longo dos tempos os ideogramas foram perdendo alguns dos traços mais representativos das figuras retratadas e tornaram-se uma simples convenção de escrita. A origem das letras está nos ideogramas, mas esses perderam o valor ideográfico, assumindo uma nova função de escrita: a representação puramente fonográfica, ou seja, a escrita baseada no significante e não mais no significado. O ideograma perdeu seu valor pictórico e passou a ser simplesmente uma representação fonética. As letras do alfabeto atualmente utilizado derivam dessa evolução.

A evolução da escrita mostra que os primeiros registros de um sistema para escrever surgiram com os sumérios e os egípcios. Em 2800 a.C. um sumério alfabetizado sabia que “boca” + “comida” designava “comer”. Outra mudança importante durante o processo de desenvolvimento da escrita egípcia foi o fato de os escribas “girarem” suas placas e não mais escreverem de cima para baixo, mas sim da esquerda para a direita. Esta mudança influenciou o grau de abstração dos símbolos utilizados. Outra mudança, foi o fato de os escribas deixarem de escrever na argila com varetas afiadas e passarem a utilizar estiletes com pontas em forma de cunha. Esta forma designa a escrita cuneiforme que continha 800 símbolos diferentes.

Ressalta-se o código de Hamurabi escrito pelos sumérios após 1800 a.C. em uma coluna de diorito (pedra) contendo ampla variedade de questões legais visando um reino juridicamente homogêneo e, ainda, garantir uma cultura comum. Em paralelo aos sumérios os egípcios, a partir de 3300 a.C., desenvolveram os hieróglifos, os quais até 2900 a.C. sofreram simplificações e surgiram 25 sinais que tinham função fonética, e muitos desses sinais eram unidos, como na escrita cursiva. Surgiu o estilo hierático. Esse estilo foi difundido por meio da criação da massa de papiro, gerando um suporte semelhante ao papel. Os escribas passaram a utilizar penas de junco, fibra de papiro e tintas nas cores: preta, verde, azul e vermelha, as quais eram utilizadas para destacar trechos do texto.

Assim, para a evolução desses sistemas de escrita, como mostra a história, é que os gregos, escrevendo consoantes e vogais criaram a escrita alfabética. E, portanto, a escrita alfabética caracteriza-se pelo uso de letras. A ideia foi transmitida por comerciantes que permitiram os diferentes povos criar seus próprios sistemas. Assim surgiram os alfabetos grego, fenício, etrusco, cirílico e romano. [/private]

 

* Texto escrito por Angelo Volpi , Tabelião em Curitiba, escritor, articulista e consultor e Cinthia de A. Freitas, Professora Titular da PUCPR e Doutora em Informática.

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