Agora vai!

No final do expediente bancário o dono de uma pensão em Fernando de Noronha leva à agencia bancária os cheques que recebeu dos seus hóspedes durante o dia. Estes cheques são colocados em um malote e enviados por avião para o continente para que sejam inseridos no sistema de compensação nacional e o dono da pensão possa ser creditado com os pagamentos recebidos. Esta cena de aviões transportando cheques se repete mais de 70 vezes todas as noites no território brasileiro. O custo anual desta logística aérea somado ao custo da logística terrestre é de cerca de R$ 300 milhões. 

[private] Por isto, há tempo o sistema financeiro brasileiro procurava alternativas para minimizar esta logística. Já em 1998 alguns visionários dentro e fora da Febraban, liderados pelo Sr. Jorge Higashino,  começaram as discussões sobre o que seria futuramente um sistema que permitisse fazer a compensação de cheques com o uso de imagens destes. Por uma série de fatores tais como a definição de quem seria o fiel depositário das imagens, limitações de rede, alto custo de hardware de armazenamento na época, falta de cultura e uma série de outros fizeram com que a idéia hibernasse.

Quase 10 anos depois a idéia retornou com mais força já que algumas das restrições existentes anteriormente haviam sido mitigadas e por outro lado os custos envolvidos no transporte físico de cheques estavam ascendentes, sem falar do custo ambiental desta.

Alguns dos bancos brasileiros já haviam investido em sistemas de digitalização de cheques trazendo infra-estrutura e cultura para o projeto. Numa das primeiras reuniões do projeto em 2007, o Karman (Carlos Eduardo Correa da Fonseca),  diretor de Tecnologia e Automação da FEBRABAN, fazendo uma retrospectiva da evolução do mercado de document imaging cunhou a frase que se tornou o mote do projeto: “AGORA VAI”.

Tendo a honra de participar na orquestração deste complexo sistema, pudemos assistir desafios tais como a criação de um padrão técnico entre os bancos (praticamente cada um dos bancos que já faziam uso de aplicações de document imaging possuíam formatos próprios), buscar a maior integridade possível para o processo, definir  janelas de processamento que viabilizassem a transmissão de grandes volumes de imagens, desenhar processos que permitissem a devolução do cheque físico em um contexto virtual, entre outras.

Os volumes envolvidos neste sistema (estamos falando de picos de até 15 milhões de imagens em poucas horas), fazem com que esteja entre os maiores do mundo. Outros dados que reforçam a afirmativa acima são:

Instalação de dezenas de milhares de scanners em todo o território nacional. Aqui deve ser lembrado que para esta instalação é necessário hardware e software e que existem agências bancárias em barcos na região amazônica;

Upgrade de links de comunicação permitindo o tráfego de imagens além dos tradicionais dados;

Gestão da mudança para centenas de milhares de funcionários que passam a trabalhar com os conceitos de imagem digital.

Os requisitos deste projeto, que obviamente não irá parar na digitalização de cheques nas agências, faz com que a expressão cunhada pelo Karman (Agora Vai!) possa ser estendida para todo o mercado de gestão de conteúdo brasileiro. Novas empresas estão surgindo, as demandas por profissionais capacitados são crescentes, a cultura da digitalização se populariza no País; os benefícios ficam mais palpáveis.

Em poucos dias, quando a troca física de cheques for substituída pela compensação por imagens no Brasil, todos estarão de parabéns por este novo marco mundial.

Feliz 2011! [/private]

 

*  Texto escrito por Walter W. Koch, diretor da ImageWare. Consultor internacional em Gestão Documental e TI. Professor dos cursos de pós-gradução da Fesp e Unip. Implementou alguns dos maiores projetos do País. Ministra cursos em diversos países da Europa, África e Oriente Médio. Autor do livro Electronic Document Management - Concepts and Technologies publicado em Dubai em 2001.Responsável pelo Treinamento da AIIM no Brasil.

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