Por Eduardo Conesa, CMO da Cogra Distribuidora

O debate sobre inteligência artificial e o futuro do trabalho está cada vez mais intenso. A preocupação com a substituição de mão de obra por máquinas não é nova. Desde a Primeira Revolução Industrial, buscamos produzir mais, mais rápido e com menor custo. A IA é apenas mais um capítulo desse processo evolutivo.
Assim como a mecanização revolucionou a indústria, a inteligência artificial promete transformar mercados, impulsionar a produtividade e criar oportunidades de negócios. Sim, algumas funções desaparecerão, mas isso não significa o fim de determinadas profissões. A história prova que a adaptação é a chave. Quem imaginaria que, na era digital, ainda haveria mercado para caligrafia artística, mesmo após tantas revoluções na indústria gráfica?
A fotografia é um bom exemplo. Embora ferramentas de IA já consigam gerar imagens realistas, ainda há uma forte demanda por fotos autênticas em momentos específicos. O mesmo ocorreu com a gastronomia: o fast food não eliminou a culinária tradicional. Sempre haverá espaço para aquilo que agrega valor humano e experiência.
Esse fenômeno cria um paradoxo: quanto mais a tecnologia avança, mais valorizamos o que é genuinamente humano. Em vez de representar o fim do trabalho, a IA impulsiona sua reinvenção. Profissões baseadas em empatia, personalização e criatividade ganham força à medida que a automação assume tarefas repetitivas.
Os números por trás da transformação :
A inteligência artificial não substitui o trabalho humano – ela redefine suas funções. Seu crescimento acelerado impacta desde a automação operacional até a personalização de serviços e experiências. Segundo o relatório Future of Jobs Report 2020, do Fórum Econômico Mundial, a IA deve criar cerca de 97 milhões de novos empregos até 2025, ao mesmo tempo em que elimina aproximadamente 85 milhões de postos de trabalho tradicionais.
Isso significa que a tecnologia não apenas desloca funções, mas também cria novas demandas. Profissões ligadas à análise de dados, desenvolvimento de inteligência artificial, segurança cibernética e experiência do cliente devem crescer significativamente. No entanto, 44% das habilidades dos trabalhadores precisarão ser atualizadas até 2027, evidenciando a necessidade de adaptação e requalificação contínua.
Além disso, o impacto será desigual entre setores e países. Algumas áreas, como atendimento ao cliente e manufatura, sentirão a substituição de empregos de forma mais rápida. Já setores como tecnologia, saúde e economia verde devem se expandir com a adoção da IA.
Desafios da adoção da IA no mercado de trabalho:
Embora a inteligência artificial traga novas oportunidades, sua implementação levanta desafios que precisam ser enfrentados para que a transição seja justa e equilibrada.
1. Desigualdade no acesso à requalificação profissional
A transformação do mercado exigirá um esforço global de requalificação, mas nem todos os profissionais terão acesso aos recursos necessários. Enquanto grandes empresas investem em capacitação, trabalhadores de setores mais tradicionais ou de baixa renda podem encontrar dificuldades para se adaptar rapidamente. Isso pode ampliar a desigualdade entre quem consegue se atualizar e quem fica para trás.
2. Acelerada substituição em certas áreas
A IA já está eliminando funções operacionais em ritmo acelerado. Setores como transporte (com veículos autônomos), atendimento ao cliente (com chatbots avançados) e manufatura (com robôs industriais) podem ver uma grande redução de empregos nos próximos anos. Isso significa que alguns trabalhadores precisarão migrar para novas áreas, muitas vezes sem tempo hábil para uma transição gradual.
3. Concentração de poder e dependência de grandes empresas de tecnologia
A inteligência artificial está sendo desenvolvida e controlada por um número restrito de grandes empresas de tecnologia. Isso pode atrapalhar o conhecimento e dificultar o acesso de pequenas e médias empresas às vantagens da IA. Além disso, essa dependência excessiva de poucas organizações para soluções avançadas pode limitar a inovação em outros setores.
IA como aliada da inovação humana:
Apesar desses desafios, a IA também oferece oportunidades valiosas para potencializar o talento humano. Profissionais e empresas que souberem integrá-la ao seu dia a dia poderão ampliar sua capacidade de inovação e criação de valor.
Em vez de resistir à IA, o caminho é utilizá-la estrategicamente. Investir no que a tecnologia não substitui – criatividade, empatia e pensamento crítico – será essencial. Um exemplo claro disso está na área da saúde: a IA pode auxiliar diagnósticos e otimizar processos, mas jamais substituirá a relação médico-paciente.
Talvez este seja o momento de explorar o diferencial humano. Profissões que envolvem contato direto com pessoas, criação artística e personalização de serviços podem se tornar ainda mais valorizadas. Além disso, empreendedores e profissionais devem enxergar a IA como uma ferramenta para automatizar tarefas mecânicas e liberar tempo para inovação e pensamento estratégico.
No fim, a grande questão não é se a IA substituirá o ser humano, mas sim como cada profissional pode utilizá-la para potencializar suas habilidades e gerar valor em um mundo cada vez mais digital. A evolução tecnológica não significa o fim do trabalho humano, mas sim sua transformação em algo mais sofisticado e alinhado às necessidades do futuro.