Aliar humanização e tecnologia é um desafio para o mercado de saúde

Aliar humanização e tecnologia é um desafio para o mercado de saúde

Ao que tudo indica, a contradição tem sido marca constante do setor de saúde brasileiro. De um lado, a recente integração da telemedicina às rotinas médicas, bem como as novas terapias, aponta para o uso crescente da tecnologia dentro do segmento. Em outra direção, estruturas precárias, filas enormes e uma gestão distante do paciente refletem um cenário que clama por mais acolhimento. Como resultado, as duas esferas - humanização e tecnologia - coexistem, mas sob o risco de colidirem diariamente... e afetarem a experiência de quem se vê prestes a ser atendido.

Isso porque há quem diz que as máquinas e instrumentos tecnológicos não só otimizam o trabalho dentro dos hospitais, mas acabam por afastar ainda mais médicos, atendentes e pacientes. Já faz exatos dez anos, por exemplo, desde que a médica e colunista do The New York Times Abigail Zuger chamou atenção para o distanciamento entre profissionais do meio e seu público, utilizando como argumento os alarmes falsos criados por raios-X imprecisos e exames anormais. Já para o brasileiro Fernando Maluf, a tecnologia pode ser o que tornará a Medicina o mais humana possível, graças ao tempo poupado. O cuidado, nesse sentido, deve vir em primeiro lugar. Em prol da humanização

Balancear a modernização das atividades e o foco no humano está longe de ser uma questão dos últimos anos. Em 2001, o Ministério da Saúde já propunha o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), que tinha como objetivo modificar o padrão de assistência dentro de instituições públicas do país. Implementado em dez hospitais pelo Brasil, a iniciativa logo se tornou uma política nacional disposta a fomentar vínculos solidários e gestões hospitalares participativas. Hoje, a rede HumanizaSUS conta com eventos, concursos culturais e até premiações das melhores experiências horizontais em território nacional. 

O uso da tecnologia, por sua vez, aparece tanto em suas diretrizes quanto nos objetivos, que preveem o acesso a dispositivos adequados para os pacientes. Segundo o manual do programa, eles asseguram "que todos sejam atendidos com prioridades a partir da avaliação de vulnerabilidade, gravidade e risco". A preocupação governamental, desde então, vem se materializado em ações como os Encontros Pró-Humanização do Hospital das Clínicas e Serviços de Nutrição e Dietética de entidades públicas - que garantem alimentação adequada aos indivíduos.

Startups entram em campo

Não é novidade que as health techs, startups focadas exclusivamente em saúde, vieram para ficar. Num contexto em que cerca de 75% dos brasileiros utilizam o SUS, apostar em soluções voltadas para modernizar os processos hospitalares parece a base dos dispostos a novos negócios. O número ultrapassa a casa das 260 empresas no país, em sua maioria concentradas no Sul, e o mercado já conta com eventos promovidos pelo Vale do Silício. Além da inserção do tech no setor, o impacto nas relações humanas vem sendo pautado como um diferencial.

"Não é novidade pra ninguém que, hoje, as clínicas e hospitais brasileiros carecem de iniciativas humanizadoras. Quem se dispõe a abrir um negócio no setor de saúde tem que se questionar, antes de tudo: afinal, de que forma meu produto vai impactar a vida das pessoas dentro da instituição?", comenta o empreendedor Fernando Soares. Ele é o CEO da mineira CM Tecnologia, que trabalha com softwares exclusivos para a Jornada do Paciente. "Por exemplo, ao otimizar a rotina de trabalho, ferramentas como uma central de marcação online ou check-in web acabam por desafogar as tarefas dos atendentes e reduzir as filas hospitalares. No fim das contas, isso significa mais conforto e agilidade para todos", conclui. 

Ele ainda lembra que, em breve, o mercado pode esperar novidades por parte da CM. O lançamento, um gateway chamado CM Connect, promete organizar o acesso aos dados de um ERP com segurança - controlando o acesso de terceiros somente para o necessário. O momento parece oportuno: assim como humanização, nunca se falou tanto em proteção de dados, interoperabilidade e conexão de aplicações por aí. Os pacientes agradecem.

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