Embedded finance na prática: payments

Por Marilyn Hahn, CRO do Bankly

Como trouxe no primeiro artigo da série sobre embedded finance, um estudo realizado pela Deloitte lançado no final de 2022 prevê que setores como varejo e telecomunicações poderão capturar mais de R$24 bilhões por ano em receitas em cinco anos, se acoplarem serviços financeiros às suas plataformas.

Para trazer mais contexto sobre os diversos modelos de embedded finance, preparei conteúdos que reiteram como a área está transformando a economia e a experiência dos consumidores. Seguros, créditos, criptomoedas, entre outros, ganham nova dinâmica e serão mostrados aqui, na prática.

No primeiro artigo da série, falei sobre a importância do desenvolvimento de seguros integrados a jornadas já existentes para o amadurecimento e a transformação digital do setor. Já no segundo, explorei melhor o embedded lending, ou no português, crédito acoplado, que prevê a oferta variada por meio de plataformas de produtos não necessariamente financeiros.

Para fechar a série com chave de ouro, abordarei sobre o tipo de finança acoplada que mais cresce: meios de pagamento.

O que são embedded payments?

O termo refere-se à integração de pagamentos digitais a plataformas e aplicativos, como digitais wallets, Pix etc. Esses métodos tornam-se cada vez mais populares porque fornecem experiência mais integrada ao usuário, que pode concluir transações sem sair da plataforma ou do aplicativo.

Os pagamentos acoplados também proporcionam benefícios para comerciantes e empresas. Ao integrar o processo diretamente a sua plataforma ou app, podem melhorar a experiência geral do cliente, aumentar as taxas de conversão e reduzir os custos de transação. Isso ocorre porque não há necessidade de pagar por um gateway de terceiros. Assim, o procedimento é simplificado e se torna mais rápido e eficiente.

Em 2021, os consumidores e as empresas dos EUA movimentaram US$ 2,6 trilhões por meio de transações financeiras acopladas. Quando os consumidores tocam em “confirmar” em um aplicativo de carona, geralmente estão muito ocupados verificando a estrada à frente para considerar as acrobacias técnicas em um piscar de olhos. Quando eles clicam em “pague agora” no carrinho de compras on-line, raramente pensam em todo o fluxo e nos processos da engenharia acontecendo para garantir a praticidade e rapidez da transação.

Segundo números levantados pelo Juniper Research, o mercado deve alcançar US$ 57 bilhões em receita até 2027, com crescimento previsto de 84% devido ao entusiasmo dos consumidores por métodos de pagamentos alternativos. Outra descoberta importante do relatório é de que, no mesmo período, 35% do faturamento dos embedded payments devem vir do segmento B2B, ou seja, empresas que vendem produtos ou serviços para outras empresas.

Os números reforçam o quanto o consumidor está cada vez mais no centro e com o poder de decisão. Por isso, oferecer uma experiência completa, fluida e sem fricção por meio desse método pode ser uma estratégia para as companhias fidelizarem seus clientes.

Quebrando barreiras

O conceito de embedded payments já é uma realidade e faz parte da nova onda de inovação do setor de meios de pagamento. Além de otimizar o processo e ser um aliado para as empresas melhorarem a experiência oferecida ao usuário, os pagamentos acoplados também contribuem para a digitalização do dinheiro e para uma economia cada vez mais cashless, como temos observado mundialmente.

A escalabilidade do embedded payment também é um diferencial, já que as empresas não precisam utilizar terceiros para a mediação do processo de pagamento e passam a ter muito mais controle de toda a gestão financeira, além da redução dos custos operacionais.

São muitas as possibilidades de aplicação, desde compras on-line até o pagamento em aquisições presenciais, como alguns casos práticos que vou citar a seguir.

Embedded payments na prática

A Starbucks é um case de sucesso no que se refere aos pagamentos acoplados. A empresa criou um programa que premia seus clientes com "estrelas" que podem ser trocadas por vantagens, como café grátis, itens de panificação e mercadorias de marca. Não à toa, fechou o ano de 2021 com quase 25 milhões de membros. O Starbucks Rewards agora representa 53% dos gastos em suas lojas, o que significa que mais da metade das vendas da organização são geradas diretamente de clientes no programa de recompensas.

A Starbucks começou a oferecer pagamentos móveis no aplicativo em 2011, eventualmente incluindo o lançamento de pré-encomendas móveis em 2014 e de retirada na calçada em 2020. Com US$ 1 gasto por estrela, recompensado para clientes pré-pagos, e duas estrelas por US$ 1 gasto para as pessoas que pré-carregam fundos em cartões-presente ou no aplicativo, esses incentivos simples aumentaram os gastos por consumidor, melhoraram as taxas de retenção e o engajamento e a eficiência do marketing.

Os clientes da Starbucks agora tinham um hub central de informações sobre cardápios, localização das lojas e horário de funcionamento que também cobria todas as funções principais que qualquer cliente precisaria em qualquer lugar, incluindo navegação no menu, pedidos, pagamentos, retirada e recompensas personalizadas.

Outro exemplo que parece trivial, mas não pode ser esquecido, é o da Uber. A forma como o aplicativo chegou ao mercado foi totalmente disruptiva para o setor de transporte. Hoje, os usuários podem concluir uma transação de pagamento no mesmo app e seus detalhes são recuperados para processar a transação em questão de segundos. A indústria de táxis dependia em grande parte do dinheiro em espécie para o pagamento das viagens, muito depois de o dinheiro ter saído de moda. A Uber poderia ter digitalizado o processo de pagamento para ganhar vantagem sobre os táxis tradicionais, mas foi além. Isso revolucionou completamente a área e trouxe simplicidade aos serviços de carona, que foram amplamente adotados pelos concorrentes.

De todos os desdobramentos de embedded finance que abordei na série de artigos até aqui, os pagamentos acoplados são os que já estão mais evoluídos no mercado. Portanto, contam com inúmeras aplicações práticas.

Em seguros, créditos ou pagamentos, fica claro que o embedded finance é algo que as empresas precisam considerar para aumentar sua proposta de valor, fidelizar a base atual de clientes e seguir crescendo e escalando suas soluções. O mercado evolui tanto e tão rápido que com certeza daqui a um tempo falarei sobre novos desdobramentos de finanças embutidas e os impactos na economia.

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