Por Franklin Tomich, sócio-fundador da Accordia, M&A Business Intelligence Ltda
Apesar de ser tratada como prioridade nas agendas executivas, a inteligência artificial ainda engatinha no ambiente corporativo brasileiro. Segundo a pesquisa TIC Empresas 2024, apenas 13% das companhias do país utilizam ferramentas de IA, repetindo os mesmos índices de 2023 e 2021. O dado revela uma estagnação preocupante. Pior: 95% dos líderes afirmam que a IA é essencial para o negócio, mas só 14% a tratam de forma estratégica, como aponta um levantamento citado pelo InfoMoney. Há um descompasso evidente entre o discurso e a prática.
Essa distância se manifesta de forma ainda mais crítica na forma como as empresas adotam tecnologia: fragmentada, oportunista e reativa. Departamentos contratam ferramentas isoladas, seja no RH, no marketing ou no atendimento ao cliente, sem conexão entre si, sem padronização de dados e sem uma visão integrada de valor. O entusiasmo com a inovação vira armadilha: ao invés de eficiência, surgem redundâncias, desalinhamentos e decisões desconectadas da estratégia. Em vez de inteligência, ruído. Em vez de resultado, despesa.
Outro erro recorrente é acreditar que bons algoritmos compensam dados ruins. Empresas apostam em soluções de IA sofisticadas, mas ignoram que esses modelos dependem de bases confiáveis, estruturadas e atualizadas. Sem isso, a tecnologia processa sinais distorcidos e entrega decisões pouco confiáveis. A pressa em “ter IA” atropela o preparo. Segundo o Valor Econômico, 82% das grandes empresas no Brasil querem integrar agentes de IA aos seus fluxos de trabalho até 2027, mas, sem governança mínima de dados, o potencial de transformação tende a virar frustração.
É justamente por isso que a IA só deve ser adotada quando conectada a um problema real, mensurável e com critérios claros de sucesso. Antes de investir em soluções tecnológicas, é necessário investir em estratégia, processos e dados. A inovação não começa na ferramenta, mas na clareza sobre onde se quer chegar. Sem essa base, o que era para ser diferencial competitivo vira só mais um modismo caro e ineficaz.
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