Gerência do conhecimento para que?

Creio que devam existir dois tipos de preocupações inerentes à implantação da Gerência do Conhecimento, tão em voga atualmente em todos os segmentos da sociedade. Infelizmente, os dois tipos  são discutidos de forma quase que exacerbada pelos que os defendem, quando se preocupam em atacar as posições contrarias às suas, mais do que em defendê-las propriamente. Um tipo de preocupação está ligado à forma da Gerência do Conhecimento e dentro deste estão todas as Tecnologias da Informação que estão sendo vendidas com poderes quase mágicos para tal. 

[private] O outro tipo está ligado aos processos que deverão gerar conteúdo, além do próprio conteúdo em si, e creio ser este muito mais importante, e até mesmo interessante da Gerência do Conhecimento. Tenho transitado entre os dois extremos da questão, forma e conteúdo, com relativa facilidade, sem deixar-me levar pelas paixões, nem ser influenciado por ideias pré-concebidas, assumidas de forma irracional.

O meu interesse principal na questão KM não se restringe ao emprego das novas tecnologias para a gestão do conhecimento, mesmo porque coloco tecnologias como agentes que têm papel secundário da nossa sociedade e não como agentes principais. O principal foco de atenção deve fazer com que sejam desenvolvidos mecanismos que possibilitem o uso eficiente de tais tecnologias para que as pessoas, estas sim o motivo principal da gestão do conhecimento, possam se beneficiar delas.

Por experiência, na área de Tecnologias da Informação aprendi que: a) a indústria de TI sobrevive muito mais pela reciclagem de ideias e tecnologias antigas (vide, por exemplo, a tecnologia com que os processadores são fabricados ainda hoje) que pela criação de substanciais novas ideias; b) que se não fosse pela existência desta mesma indústria nossa sociedade já teria voltado a ser uma economia pré-industrial. Em outras palavras, se a economia global já está difícil com a disseminação da informática imagine então sem ela. Teríamos, todos nós, voltado a sermos artesãos.

  1. Entretanto é preciso lembrar sempre que:
  1. Todo conhecimento adquirido terá dois mommentums: o útil e o histórico. Na área de TI, por exemplo, o mommentum útil é extremamente efêmero, por culpa do caráter efêmero das tecnologias.
  2. O conhecimento adquirido tem, assim como os alimentos, os medicamentos e outros produtos, um prazo de validade, que deve ser respeitado sob pena de causar “desarranjos” graves às organizações.

Por essas razões creio que no escopo da Gerência do Conhecimento devem estar os motivos para a busca e o uso do conhecimento que se necessita adquirir. Não há sentido acumular-se conhecimento sem usá-lo, sob pena de perdermos o momentum para o qual este mesmo conhecimento teria sido útil.

Por meio dos três tipos de usos do conhecimento, o estratégico, o operacional e o emocional (Cruz, 2002) é possível fazer as pessoas quebrarem os mecanismos que as aprisionam em mundos com pouca ou nenhuma possibilidade de transformação. Diferentemente da ideia que leva as pessoas a acreditarem que quanto mais a informação for escondida mais ela protegerá o seu dono, a Gerência do Conhecimento deve ser entendida como a única possibilidade, real e concreta,  que beneficia à todos e em especial a quem o possui.

A primeira certeza é a do benefício da natureza sintrópica de tais grupos, através dos mecanismos que possibilitam multiplicar ao dividir conhecimento, o único moto continuum possível. No caso específico do conhecimento operacional ele serviria para mudar a maneira como a estrutura organizacional se relaciona com as operações do dia-a-dia, transformando organismos sem senso de direção (como a grande maioria das empresas ainda hoje) em organismos baseados no conhecimento, que garantirá o sucesso de cada dia, dia após dia.

Os processos de negócio são, por enquanto, a única maneira de transformar organizações pesadas, ineficientes e que agem por reação, em organizações leves, eficientes e pró-ativas, exatamente como cérebros (Morgan, 1999), até mesmo se a natureza delas for essencialmente fordiana.

Assim:

Não podemos implantar a Gerência do Conhecimento através da criação de estruturas pesadas e centralizadoras; Deve existir um gerente da Gerência do Conhecimento e não um gerente do conhecimento.

Não podemos forçar o compartilhamento do conhecimento, antes, devemos criar condições que facilitem este compartilhamento.

Devem ser criados elementos de estímulo à participação de todos na Gerência do Conhecimento, jamais esquecermos que os verbos: capturar, classificar, organizar, armazenar, validar e disponibilizar (conhecimento) devem ser conjugados na primeira pessoal do plural.

Muitos projetos já fracassaram e outros tantos seguirão o mesmo destino por terem, os responsáveis, insistido em conjugar esses verbos na primeira pessoal do singular. E o que os especialistas consideram o mais importante:

NÃO FORCE ninguém a participar (compartilhar) da Gerência do Conhecimento. Isto não funciona. [/private]

 

* Texto escrito por Tadeu Cruz,  professor M.Sc.,  formado em Administração de Empresas; especialização em Engenharia de Sistemas e em Análise & Modelagem de Processos de Negócio. Mestre em Engenharia de Produção. Membro-pesquisador do GEACTE-FEA-USP e do Sage-Coppe-UFRJ  e da Escola de Engenharia Universidade Mackenzie.

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