As organizações também precisam de vitaminas

*por Nicolás Jodal

Um dos especialistas de maior reconhecimento em direção de empresas do mundo, Ichak Adizes, já disse que, por analogia, como os seres vivos precisam de vitaminas para estar saudáveis, as organizações também precisam de vitaminas para funcionar. Se essas vitaminas não estão funcionando, a organização morre e não entendemos muito bem o porquê. Semelhante ao que acontecia com os marinheiros na época de Cristovão Colombo, quando padeciam de escorbuto.

Bastante comum no século XV, o escorbuto era uma doença de cura desconhecida e que atingia os marinheiros. Se um marinheiro adoecia, morria depois de um tempo sem que se soubesse a causa. Muito tempo depois, a ciência descobriu que o problema do escorbuto era muito fácil de resolver porque era provocado pela falta de vitamina C. O simples hábito de chupar limão teria sido suficiente para salvar muitos marinheiros.

A ideia de Adizes diz isso. Quero descrever agora quais são essas vitaminas e abordar, com um enfoque simples, alguns temas que se relacionam ao modo como as organizações funcionam para que se possa ver que muitos problemas têm soluções bastante fáceis.

A primeira vitamina para uma empresa seria a P, de Produzir. Toda organização precisa produzir algo e ter um propósito. Embora isso pareça ser muito óbvio, existe muita confusão a respeito. Se perguntarmos a alguém qual é o propósito de uma organização, essa pessoa certamente dirá que é ganhar dinheiro.

Essa confusão, segundo Adizes, é parecida com a confusão, em um jogo de futebol, entre o placar e o jogo em si. Se sou parte de um time de futebol, meu propósito é fazer gols, mais gols do que fazem em mim e, a partir daí, terei um resultado que se refletirá no placar. Mas muitas empresas mirando no placar, em vez de se dedicarem a tentar fazer gols, se perdem durante o jogo.

O propósito de uma organização deve ser satisfazer a necessidade de um cliente. Por isso, o propósito de uma farmácia não é ganhar dinheiro, porque as pessoas não vão à farmácia para que o farmacêutico ganhe dinheiro, mas porque sentem dor de cabeça e querem que o farmacêutico lhes dê algo que ajude; se isso fizer bem, ele ganhará dinheiro. A vitamina P é a que produz coisas, logo uma organização que tem vitamina P, faz muitas coisas.

Entretanto, só essa vitamina não basta. Faltam outras vitaminas, como a A, de Administrar, que orienta a eficiência.

A vitamina A permite desenvolver as atividades com uma quantidade mínima ou razoável de recursos. Administrar uma empresa, geralmente, está ligado ao controle de seus recursos. Aqui também costuma ter confusão, pois há uma tendência a pensar que quem administra bem uma empresa, também a dirige. Isso é um equívoco, muitas vezes um bom administrador está preocupado precisamente em controlar os recursos da companhia e não com a eficácia, o que pode se traduzir em certo descuido para com os clientes.

A próxima vitamina é a E, de Empreender. Entende-se por Empreender a capacidade de adaptar-se ao futuro, mas é, de fato, a capacidade de imaginar um futuro e arriscar-se para criá-lo, para construir esse futuro.

Por último, as empresas também precisam da vitamina I, de Integrar. O que essa vitamina proporciona é a capacidade de que uma empresa possa ser integrada, podendo, assim, dar continuidade ao trabalho de seus fundadores.

Uma companhia integrada funciona como um organismo orgânico e não como algo mecânico. Em uma organização mecânica, cada parte cumpre sua função perfeitamente e, enquanto isso acontecer, tudo funcionará bem. No entanto, se alguma parte falha, toda a estrutura desmorona – é como se cortasse uma perna de uma cadeira. Um organismo orgânico, em contrapartida, encontra a maneira de suprir as funções de uma de suas partes com outra quando alguma falha, e assim continuara viver. Isso acontece com o corpo humano. Se, por exemplo, o estômago começa a ter problemas, o esôfago pode cumprir suas funções para que a pessoa permaneça viva.

Em conjunto, todas as vitaminas permitem que uma empresa cresça forte e saudável. No entanto, se tivermos que dizer qual delas tem mais necessidade atualmente, diria que é vitamina E, de Empreender. É preciso se atrever a ter ideias e transformá-las em negócios e não se deixar vencer por dois problemas que essa vitamina pode apresentar.

O primeiro é que as boas ideias demoram pra crescer, nas palavras de Hugh MacLeod, “todas as boas ideias têm uma infância solitária”. Quanto mais original for uma ideia, mais chances ela terá de ser considerada louca. Recomendo uma mentalidade aberta, pois existem ideias que no princípio parece que não vão funcionar, mas é possível que funcionem muito bem.

O segundo problema é a vitamina A, que compete com a vitamina E. É lógico, porque o que a vitamina A, de administrar e controlar, quer fazer é seguir um programa, um regulamento, um código, e o que a vitamina E quer fazer é quebrá-lo, fazer tudo diferente, de modo que sempre se chocarão.

Assim como a vitamina E demora para crescer, a vitamina A cresce sozinha, e as pessoas que têm orientação para a administração tem muita vocação para serem precisos, embora possam estar precisamente equivocados. Por isso, proponho lutar pela vitamina E e tentar convencer às pessoas a se arriscarem, para que em vez de estarem precisamente equivocados, possam estar aproximadamente certos.

*Nicolás Jodal é CEO e Cofundador de GeneXus International – empresa que desenvolve GeneXus – ferramenta de desenvolvimento de sistemas que permite criar aplicativos para as linguagens e plataformas mais populares do mercado, sem necessidade de programar.

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