Bancos na era da imagem

Com a implantação do sistema de Compensação por imagem os bancos brasileiros terão uma economia da ordem de R$ 100 milhões ao ano

A 21ª edição do Ciab FEBRABAN 2011, que ocorre entre os dias 15 e 17 de junho de 2011, em São Paulo (SP), marca definitivamente o ingresso da compensação de cheques brasileira na era da imagem digitalizada. Este ano, teve início oficialmente nas instituições financeiras do país a eliminação do transporte de cheques, uma modernização permitida pelo que muitos analistas já classificam como um dos mais grandiosos desafios do Sistema Financeiro Nacional: a substituição do tradicional modelo de compensação de cheques – conjunto de procedimentos que leva à troca do documento físico por dinheiro – por outro que utiliza o intercâmbio de imagens.

[private] Após dois anos em que se cumpriram várias etapas de desenvolvimento e algumas prorrogações, sob a batuta da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), a entrada em vigor do padrão bancário nacional de troca de mensagens digitalizadas – também denominado Compe por Imagem – foi sinalizada em Circular do Banco Central. A autoridade monetária instituiu a truncagem como procedimento padrão no âmbito da Centralizadora da Compensação de Cheques (Compe) e estipulou o dia 20 de maio de 2011 como a data de início efetivo do sistema em todos os bancos – menos nas agências bancárias localizadas em regiões de difícil acesso, que ganharam mais 60 dias para se adaptarem.

Todo o processo até então exigia uma formidável estrutura de logística envolvendo desde dispendiosas frotas de carros-fortes até um exército de profissionais encarregados da conferência manual dos documentos. Agora, tudo é feito mediante a captura das informações do cheque via código de barras e seu envio, junto com a imagem digitalizada do documento, ao Banco do Brasil, que exerce legalmente o papel de executante dos serviços de compensação de cheques no país.

Os benefícios que a inovação trará aos clientes dos bancos vão desde a agilidade no atendimento e redução de inconvenientes até acesso quase imediato ao dinheiro depositado em forma de cheque. “Uma das vantagens será a redução do prazo de compensação, que atualmente é de até 20 dias úteis, dependendo da região do País, para somente dois dias (conforme o valor do cheque), proporcionando maior comodidade e segurança para os clientes”, exemplifica o diretor-adjunto de serviços da Febraban, Walter Tadeu Pinto de Faria.

No âmbito do setor financeiro, os benefícios da inovação são amplos e diversificados, e muitos deles já vêm sendo experimentados desde que as instituições iniciaram os investimentos tecnológicos necessários para atender aos requisitos do novo sistema. Para dar uma ideia dos ganhos, estimativas iniciais apontam que a economia obtida com o novo padrão ultrapassará R$ 250 milhões. Alguns analistas apostam em um valor ainda maior, mesmo considerando apenas as economias mais imediatas e quantificáveis, como a redução dos gastos com transporte.

Laércio Albino Cézar, vice-presidente executivo de TI da instituição financeira do Banco Bradesco

Mas os avanços não significam que foram eliminados todos os desafios no que se refere a armazenamento e gerenciamento de documentos. Embora o uso de cheques como meio de pagamento venha caindo significativamente no país, devido à popularização de cartões de débito e crédito e de outras formas de pagamento, o volume de cheques que passam pelo serviço de compensação anualmente chega a 1,1 bilhão de unidades, segundo os dados de 2010 fornecidos pela Febraban. Com a truncagem, essa montanha de cheque em papel deve ficar retida nas instituições financeiras que acolheram os depósitos, que responderão pela sua guarda até a sua destruição, cumprindo o ciclo estabelecido pela compensação. Lembre-se de que continuam valendo para os bancos todos os dispositivos legais e regulamentares relacionados à guarda de documentos e direitos de emissores e beneficiários, inclusive no que diz respeito ao fornecimento de cópia e de informações.

Digitalização além da truncagem

A empreitada bem sucedida da compensação por imagem deverá dar um forte impulso a outros investimentos do setor, em especial aqueles relacionados com gestão de conteúdo e documentos nos mais variados formatos. Para os analistas da Febraban, no médio prazo, toda a estrutura tecnológica aplicada na compensação dos cheques – equipamentos e software de captura, reconhecimento e transmissão de imagem – poderá ser utilizada também em operações não-financeiras. Os avanços na direção a um futuro com mais digitalização e menos uso do papel fortaleceria ainda mais a posição de vanguarda tecnológica já conquistada pelos bancos brasileiros no mundo.

Os grandes bancos varejistas já estão conscientes dessa oportunidade. No Bradesco, segundo maior banco privado do país, a alta diretoria já inclui a imagem como o maior desafio tecnológico que as instituições financeiras devem enfrentar atualmente, pelos impactos imediatos que traz ao negócio. De acordo com Laércio Albino Cézar, vice-presidente executivo de TI do Bradesco, o uso da imagem no dia a dia operacional muda radicalmente e rapidamente a forma de trabalhar na instituição. “Em vez de papel, usa-se imagem, o que torna os processos muito mais rápidos e flexíveis. Temos feito investimentos pesados nessa área, estamos avançando de forma acelerada”, festeja o executivo.

Cézar não esconde que uma das maiores ambições do Bradesco atualmente, no que se refere a inovações tecnológicas, é prolongar o esforço de implementação do projeto de compensação de cheques por imagem digitalizada para muitas outras atividades do banco. Sem precisar prazos ou recursos, Cézar informa que, atualmente, sua equipe de TI está focada em um projeto interno de gestão de conteúdo que abrange uma ampla gama de documentos. “Trata-se de investimento de envergadura ao qual dedicamos muito cuidado e atenção. Envolve muitos documentos físicos gerados no dia a dia, desde a abertura de conta por um cliente até o momento em que ele fecha negócio com o banco”, adianta o gestor. O vice-presidente do Bradesco define esse investimento como uma das maiores empreitadas da instituição atualmente, ao lado da conclusão da nova arquitetura, que vem sendo desenvolvida nos últimos cinco anos, com prazo para conclusão dentro de dois anos. “Ambos são projetos que alteram profundamente a nossa rotina de trabalho”, diz.

Gustavo Roxo, presidente da Comissão Organizadora do Ciab

A digitalização além da truncagem, a propósito, é um dos grandes temas de debate do congresso Ciab FEBRABAN 2010, que este ano adotou o tema central “Tecnologia Além da Web”. As discussões também abordarão inteligência do negócio, computação em nuvem, riscos do site WikiLeaks no mercado financeiro, comportamento do consumidor nas redes sociais e plataforma corporativa de colaboração, entre diversos outros assuntos de interesse da indústria bancária.

Na posição de segmento que mais investe em TI no Brasil, respondendo por 16% de todas as compras de tecnologia em 2010, segundo a IDC, o setor financeiro dá mostras de que não pretende reduzir o ritmo de modernização que tem mantido nos últimos anos.  Segundo a Febraban, em 2010 os bancos destinaram R$ 22 bilhões para despesas e investimentos em tecnologia, um aumento de 15% em relação a 2009. “Enquanto as despesas cresceram 13%, os investimentos se expandiram em 19%. Esses números mostram que os investimentos crescem acima da média de despesas do setor, o que significa que os bancos veem em TI uma importante alavanca para suas estratégias de crescimento”, destaca Gustavo Roxo, presidente da Comissão Organizadora do Ciab.

Benefícios da compensação digital por imagem

  • Permite que 90 milhões cheques compensados mensalmente entrem na era digital
  • Reduz o prazo de compensação de 20 dias úteis para 2
  • Elimina o trajeto físico do cheque, o que reduz a possibilidade de clonagem, extravio, perdas e roubo
  • Reduz expressivamente emissões de CO2 na atmosfera, devido à eliminação do transporte do cheque físico por via terrestre ou aérea (estima-se que cerca de 37 milhões de quilômetros anuais deixam de ser percorridos, com redução de 15 mil toneladas anuais na emissão de CO2)
  • Elimina mil roteiros terrestres e 50 aéreos, o que representa uma economia em torno de R$ 100 milhões no ano
  • Permite que a estrutura tecnológica montada possa ser utilizada também em operações não-financeiras [/private]

 

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