Inteligência Artificial: qual o nosso papel em seu avanço e uso saudável?

Por Daniel Scuzzarello, CEO da Siemens Software para América do Sul

Com a democratização do conhecimento e acesso a tecnologias de Inteligência Artificial, os debates sobre o tema têm se ampliado e causado certa desconfiança sobre os limites da tecnologia. O ChatGPT ganhou atenções pela rápida adesão do público, a aceitação gerou tanta comoção que o Future of Life Institute lançou uma carta aberta com o pedido de suspensão das atividades de desenvolvimento de IA, contanto justamente com o apoio de um dos investidores do ChatGPT e um dos maiores entusiastas da tecnologia: Elon Musk. Isso causou um frenesi e reforçou os holofotes para as IA’s com os receios e entusiamos.

Essa aparente contradição nos acende um farol amarelo: quais são os riscos inerentes da IA? E por que demandam pausa em seu desenvolvimento? Seria a IA uma tecnologia tão ameaçadora assim para precisar de um tempo para regulamentação?

Precisamos entender que a ideia de desenvolver uma máquina que pudesse superar um humano nasceu há mais de 70 anos – estamos falando de uma tecnologia que vem sendo trabalhada há muito tempo. Em 2001, entrei no mundo da Ciência da Computação. Lá, cerca de duas décadas atrás, estavam criando a base dos algoritmos que o machine learning usa hoje.

Ou seja, a Inteligência Artificial não é uma questão nova. Inclusive, é por conta dela que as propagandas direcionadas funcionam, por exemplo. A tecnologia de Big Data, termo que explodiu anos atrás, é outra fonte que depende da IA.

O que acontece é que chegamos no ponto da democratização do acesso à Inteligência Artificial. Pelo andar da carruagem, ela passará a ser mais e mais utilizada pelo público em geral, aprendendo com as nossas perguntas, criando maior base de dados de acordo com nossos interesses. É a partir daí que o uso de IA pode ultrapassar ambientes controlados. Sendo algo desenvolvido pelo ser humano e que também aprende diariamente com o nosso uso, os problemas sociais que enfrentamos podem ser refletidos nessas tecnologias.

O algoritmo ainda não entende as sutilezas que podem estar em uma pergunta com racismo ou xenofobia implícitos, por exemplo. Além disso, ele se alimenta de conteúdos que estão na internet – e sabemos que há muito conteúdo preconceituoso, não inclusivo e sem ética.

É aí que mora uns dos grandes perigos da IA: conforme ela vai se tornando cada vez mais acessível ao grande público, ela pode ser alimentada e alimentar discursos de ódio, por exemplo.

Ou seja, a grande questão ao redor da Inteligência Artificial é ética. Ela demanda consciência coletiva porque já está intrínseca no nosso dia a dia, mas precisamos aprender a lidar melhor com ela, tendo em mente seus impactos futuros.

Será necessário aprender a fazer as perguntas certas: nosso poder está justamente aqui. Precisamos ver a tecnologia como aliada para melhorar nossa vida e proporcionar a nossa moeda mais valiosa: o tempo.

E o que fazer com o tempo que nos sobra proporcionado pela tecnologia? Nos educar mais e mais. Afinal, perguntas bem formuladas educam nosso “filho” coletivo que é a IA. Perguntas bem colocadas proporcionam ética, respeito e um contexto humanitário para a nossa ferramenta.

Além dos potenciais positivos que eu enxergo na Inteligência Artificial, outras pessoas veem muitas outras possibilidades: há um amplo campo de uso da IA em Medicina, por exemplo, apoiando no diagnóstico de doenças difíceis ou facilitando o acesso à informação em áreas remotas, e na produção agrícola – sem contar no apoio que ela pode nos dar para combatermos as mudanças climáticas e economia de recursos naturais.

No mundo industrial, a IA está presente há algum tempo e pode, por exemplo, tornar os trabalhos mais dinâmicos e produtivos. Na Siemens Software, usamos essa solução para entregar respostas para perguntas que ainda não foram completamente formuladas e otimizar a cadeia de produção.

Com o Big Data, podemos traçar uma curva de dados que entende a direção que os negócios estão tomando. E cabe às lideranças, que recebem essas informações de grande valor, tomarem suas decisões.

A Inteligência Artificial chegou (e permanece) entre nós há algumas décadas. Seus avanços nos últimos anos são inegáveis, profundos. Criamos sistemas que aprendem com seus conteúdos e que podem cruzar dados e informações em uma capacidade sobre-humana.

Certamente precisamos também de respaldo legal para garantir a proteção de dados e a confiabilidade. Afinal, a IA só terá valor se pudermos rastrear suas informações e confiarmos em suas predições e conteúdo. No entanto, agora, a questão é aplicarmos o que temos de melhor para garantir que seus frutos sejam colhidos – porque há muito que esses sistemas podem colaborar, mas eles dependem que nós façamos nossa parte.

Por isso, temos que entender a IA como nosso grande filho coletivo, concebido a partir da aplicação de conhecimentos técnicos e sociais. E um filho demanda muito mais do que alimentação e bens materiais. Um filho demanda consciência, ética e pensamento em prol de algo maior.

Precisaremos, coletivamente, ser mais conscientes e melhores do que já fomos. Será uma jornada e tanto, mas, se seguirmos neste caminho ético, os resultados tendem a ser promissores.

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