*Artigo da CBN
O tão procurado projeto executivo do viaduto que cedeu na Marginal Pinheiros está perdido em meio a pilhas de documentos velhos guardados num depósito do governo de São Paulo. A reportagem da CBN esteve no local. Até agora, um grupo de engenheiros conseguiu encontrar uma das seis partes do projeto.
O depósito pertence ao DER (Departamento de Estradas de Rodagem) e fica na Mooca, Zona Leste da capital paulista. É um espaço degradado que abriga, entre outras coisas, a sucata de equipamentos que vão a leilão. Trabalham no local apenas dois funcionários efetivos do DER.
Ali está o projeto do viaduto que ruiu. Encontrar o documento diminuiria o prazo da reconstrução. Sem ele, é preciso fazer a reconstituição da obra, o que leva mais tempo.
No mesmo lugar estão também os projetos de grande parte das rodovias do Estado e de pontes e viadutos das marginais. Os mais antigos são da década de 1940. Se acontecer algum problema com essas obras, a dificuldade para encontrar os projetos será a mesma. Isso porque os papéis estão misturados e amontoados dentro de uma espécie de garagem sem portas.
Na última quinta-feira, uma semana depois do viaduto ceder, o DER deslocou um grupo de engenheiros para acelerar as buscas. Eles descobriram que os desenhos da obra somam 173 folhas, que estavam agrupadas em 18 volumes agora espalhados. A parte que interessa, o projeto executivo, tem 62 folhas e seis volumes. Até agora, essa força-tarefa conseguiu encontrar o último volume, com 12 folhas.
As plantas localizadas são da peça transversal do viaduto. O engenheiro responsável pela restauração da obra recebeu esses desenhos na manhã desta segunda-feira. O mais importante, no entanto, é encontrar os desenhos do apoio e das vigas de sustentação.
15 ANOS DE DESCASO
O descaso com o arquivo do DER remete ao ano de 2003. Até essa data, o material estava bem preservado e organizado em um arquivo que funcionava no primeiro andar da sede do órgão, no centro da cidade.
O arquiteto Eduardo Figueira de Mello trabalha como perito judicial e durante anos fez pesquisas no arquivo antigo.
"Era um arquivo muito bem montado. A gente tinha a plena convicção dos dados que ali dispunha. Tinha um pessoal especializado. Eles tinham o domínio, sabiam onde estava cada coisa. A gente não ficava perdendo tempo. Hoje em dia é o contrário. Ninguém sabe de nada. A cidade não tem o acervo das marginais. Fica tudo perdido, ninguém sabe onde está."
O acervo foi transferido à Mooca para dar lugar a um centro de controle operacional. Cinco funcionários do DER disseram que o transporte aconteceu sem qualquer cuidado. Os projetos foram colocados desprotegidos na caçamba de caminhões. Parte teria se extraviado.
O superintendente do DER na época morreu. O secretário de Transportes era Dario Rais, hoje secretário Nacional de Aviação Civil no governo de Michel Temer. À CBN, ele disse não se lembrar de como foi a transferência do arquivo. O governador era Geraldo Alckmin.
O que estava organizado, chegou ao novo destino misturado. E assim ficou desde então. Durante quase cinco anos, somente uma funcionária e um motorista cuidavam do espaço. Recentemente, o DER deu início a um lento processo de triagem e digitalização do material.
Apenas um funcionário estava fazendo a triagem. Pegando processo por processo e separando o que era mais importante. Após o incidente com o viaduto, o DER deslocou o grupo de engenheiros para acelerar a triagem.
Ou seja, precisou um dos mais importantes viadutos de São Paulo quase desabar para que o governo do Estado começasse a organizar o arquivo.
OUTRO LADO
Em nota, o DER se limitou a dizer que iniciou a pesquisa sobre o referido projeto em seus arquivos e que, tão logo a conclua, informará o município.