Robôs Criminosos?

Temos visto em várias feiras de tecnologia as maravilhas realizadas por robôs, um dos mais importantes eventos ocorreu em outubro deste ano em Taiwan, chamado de Taipei International Robot Show. Desde demonstrações prosaicas como jogar tênis de mesa e dançar, mas que revelam uma fantástica tecnologia, até um robô que imita expressões faciais de seres humanos; a cada ano o espanto e incredulidade são maiores. 

[private] O filme Eu Robô repete a fórmula já meio surrada de Franskenstein, Pinóquio, Blade Runner, 2001 Uma Odisseia no Espaço e outras tantas em que a criatura assume feições humanas e em alguns casos o que esses têm de pior. À luz do contexto, a possibilidade de robôs virem a fazer cópias de autógrafos é algo que assume contornos de realidade num futuro não muito distante e causa-nos preocupação, visto que ambos dependemos, em nossas profissões (tabelião e perita), da verificação de autenticidade em assinaturas manuscritas.

Já em 2003, o artigo apresentado pelos pesquisadores Franke, Schomaker e Penk, na 11th Conference of the International Graphonomics Society (IGS’2003) relata e discute o uso de assinaturas produzidas por robôs em estudos relacionados à análise de autenticidade de documentos. Mais especificamente, o artigo trata de sistemas computacionais de apoio à análise forense de manuscritos. Neste âmbito, são importantíssimos os elementos dinâmicos da escrita, visando-se identificar a autoria de um material manuscrito.

Os autores comentam que muitas vezes,  a análise de documentos sob suspeita está restrita à inspeção visual (mesmo com aparelhamento óptico) dos elementos gráficos e estáticos. O exame das características dinâmicas, a exemplo do ritmo de distribuição da tinta e a estrutura interna do traçado, podem ser decisivos para associar uma assinatura como autêntica ou proveniente de um mesmo punho escritor. E, ainda, que a combinação de métodos de captura on-line (adquirida dinamicamente, ou seja, por processo de mesa digitalizadora, papel eletrônico ou caneta óptica) e off-line (é adquirida estaticamente, ou seja, digitalizada do papel ou por câmera) podem melhorar o desenvolvimento de sistemas computacionais de apoio à identificação de autoria em documentos manuscritos.

No método on-line o sinal é constituído de informação temporal, dinâmica e uniforme. O escritor é parte do processo e trabalha como um supervisor da escrita, pois pode identificar e corrigir eventuais erros. Por outro lado, no método off-line o escritor é ausente. O sinal obtido é bidimensional (uma imagem ou matriz de pontos), não contém informação temporal e o traçado possui espessura variável.

Tendo-se em vista essas considerações, os pesquisadores realizaram a coleta por método off-line de um espécime de assinatura de dez autores diferentes. O sinal adquirido, contendo todas as características do autor/assinatura, foi repassado para um programa computacional CAD/CAM, o qual pode gerar uma codificação contendo a especificação a ser transferida para um robô-escritor nas três direções (largura, comprimento e altura). Assim, o robô pode reproduzir essas assinaturas.

Pode, então, um robô ser um fraudador? Como identificar esse tipo de fraude? As respostas para esses questionamentos devem ser analisadas considerando-se dois aspectos: técnico e grafotécnico.

A rigor, o que ocorre no robô é que a simulação da força da caneta é realizada por meio de um apoio elástico e de uma mola com força conhecida. Nos experimentos realizados foi observada uma diferença de 2% em relação ao desvio-padrão médio do nível de pressão das assinaturas geradas pelo robô. O que é muito pouco considerando que ninguém assina duas vezes da mesma forma.

Atualmente esse tipo de experimentação cabe somente a pesquisadores, pois esse robô ainda não está disponível para comercialização e seu custo é alto. Entretanto, com certeza chegará o dia em que será acessível, e cada vez mais eficiente. Sendo assim, fazendo um exercício de futurologia, podemos imaginar que mais uma vez as assinaturas manuscritas estão com sua confiabilidade abalada e podem estar com seus dias contados e que será necessário buscar outras formas de subscrição no papel... mas pensando bem, se ainda existir documento em papel. [/private]

 

* Texto escrito por Angelo Volpi , Tabelião em Curitiba, escritor, articulista e consultor e Cinthia de A. Freitas, Professora Titular da PUCPR e Doutora em Informática

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