A sobrevivência do papel

É fato que o papel vem sendo substituído pelo documento eletrônico, só não sabemos qual será o ponto de inflexão. Alguns afirmam que o papel vai desaparecer como documento e até como mídia de imprensa. Especular sobre essa transmutação é uma espécie de “esporte nacional”. 

[private] Alguns indicativos nos apontam que não veremos – e nem sequer nossos filhos e provavelmente netos – um mundo sem documentos em papel. Os exemplos e indicativos são muitos, entre os quais as correspondências. A carta é a forma mais tradicional de comunicação e sobrevive heroicamente. Não se sabe exatamente sua origem, mas foi graças a Rowland Hill, inventor do selo postal, que as cartas deixaram de ser depositadas nos marcos e postos dos correios e pagas ao carteiro pelo destinatário, segundo um complicado esquema de taxas que dependiam do volume do envelope e da distância ao local de destino. Além de caro, o sistema era ineficiente. O selo foi posto em prática em 1840, sendo um grande sucesso pelo fato de até hoje ser utilizado. Mas, então, o que está acontecendo? E o futuro? Ainda não chegou?

Bem, a verdade é que de acordo com a União Postal Universal (UPU), fundada em 1874 em Berna, na Suíça, desde 2007 o envio de correspondências vem se mantendo estável. Em 2010, circulavam diariamente pelo mundo 1,2 bilhão de cartas. Os campeões mundiais são os EUA contabilizando 199 bilhões de cartas por ano. Em segundo lugar vem o Japão (25 bilhões) e, em terceiro, a Alemanha (21 bilhões). Nos países considerados emergentes, a China lidera com 23 bilhões ao ano. O Brasil tem enviado 8,6 bilhões de cartas ao ano.

Um dado interessante é o fato de que as correspondências internacionais vêm diminuindo. Nestes casos, nota-se uma clara influência da Internet. Em 2000, 8 bilhões de cartas cruzavam as fronteiras, já em 2008, somente 6 bilhões. Chama a atenção também o fato de que a implantação de empresas comerciais e bancárias em países que pertenciam ao bloco soviético gerou um aumento do volume interno dos correios, como aconteceu com a Eslovênia que alcançou um aumento de 58% em 2002.

Mas não somente os costumes, a tradição e a impossibilidade de se usar o documento eletrônico – pelo simples fato de as pessoas não possuírem computadores – indicam uma longuíssima sobrevida do papel. Sem dúvida, o maior empecilho são normas legais. Não, paciente leitor, não somente as antigas, mas também as novas!

Os casos são muitos e não somente em nossa tupiniquim versão. Nos EUA o voto impresso continua ganhando força desde o episódio da eleição polêmica de George W. Busch contra Al Gore. Por aqui também é forte o movimento pela sua impressão. Outro exemplo recente é a Portaria Nº 1.510 do Ministério do Trabalho que obriga as empresas com mais de 10 empregados a imprimir a folha de cartão ponto e entregá-la. Dá para imaginar o volume, pois a cada dia serão quatro por funcionário. Resta saber se eles vão guardar tudo isso...

Alardeia-se sobre o pagamento em cartões de crédito, mas não se fala nos famigerados “amarelinhos” e “azulzinhos” que entulham nossos bolsos, carros, gavetas etc. Sem falar na outra cópia que fica com o comerciante e que, juntamente com o comprovante das TEDs e pagamentos online, entulham os escritórios.

A Medida Provisória Nº 2.200-2 de 2001 prevê que os documentos eletrônicos assinados digitalmente têm o mesmo valor do papel. E, portanto, no mínimo, todos os órgãos públicos deveriam obrigatoriamente aceitar o documento em formato digital. O que vemos após 11 anos são milhões de papéis continuando a serem impressos para concorrências, licitações e, de maneira geral, para qualquer pleito ou prova em repartições públicas.

Portanto, caros leitores, ao que parece, “muito papel passará debaixo da ponte” até o dia em que veremos um paperless office. O que, de certa forma, não deixa de ser um bom augúrio para o nosso business e também para esta revista que tanto nos prestigia... [/private]

* Texto escrito por Angelo Volpi, Tabelião em Curitiba, escritor, articulista e consultor e Cinthia o. de A. Freitas, Professora Titular da PUCPR e Doutora em Informática.

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