Pandemia acelera digitalização dos meios de pagamento no Brasil

Pandemia acelera digitalização dos meios de pagamento no Brasil

Por Pedro Coutinho, CEO da Getnet*

A Covid-19 provocou um tsunami na economia mundial, mas alguns setores foram na contramão da crise e aceleraram a transformação digital como uma necessidade de sobrevivência ou diferenciação. A indústria de meios de pagamento, por exemplo, já vinha em um movimento forte de digitalização e um dos destaques é o uso de pagamentos sem contato. Essa tecnologia ganhou uma nova dimensão nesse momento em que o distanciamento social ajuda a prevenir o novo coronavírus.

Os pagamentos por aproximação com a utilização do celular e Contactless, que são os cartões que usam a tecnologia sem contato, permitem ao cliente pagar pelas suas compras sem nenhum toque, o que proporciona mais segurança para todas as partes.

Segundo levantamento da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), a modalidade pagamentos por aproximação registrou crescimento de 456% no 1° trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, movimentando R$ 3,9 bilhões. Em março, já sob os efeitos da quarentena, a alta foi de 385%, com volume de R$ 1,4 bilhão. 

Por meio da tecnologia NFC (Near Field Communication), o pagamento é feito sem que haja contato físico e sem necessidade de digitação de senha para valores até R$ 50, o que ajuda no combate à disseminação do coronavírus. A modalidade, que é aceita no comércio em geral e no transporte público de algumas capitais, também já está presente, desde o início de maio, nos pedágios das rodovias Anchieta, Imigrantes, Ayrton Senna e Carvalho Pinto, no Estado de São Paulo.

A carteira digital, também chamada de wallet, é uma outra modalidade que vem ganhando mercado a cada dia que passa. O dispositivo eletrônico permite o armazenamento de dados dos cartões de débito, crédito e vouchers, e com ele é possível realizar pagamentos sem ter o cartão físico em mãos. 

Sempre existem comparações entre China e Brasil no que tange pagamentos, porém as duas nações possuem realidades e economias muito diferentes. O mercado chinês pulou a etapa do uso de cartões de plástico e seguiu direto para a digitalização do dinheiro. Quase 70% da população economicamente ativa utiliza as carteiras digitais como o principal meio de pagamento. No Brasil, a popularização das wallets é recente e cresce estimulada pelo uso dos smartphones. 

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, existem mais de 45 milhões de desbancarizados no País, e isso significa que a cada três brasileiros, um não possui conta bancária. Este contingente chega a movimentar R$ 800 bilhões anualmente. Para a Abecs, os cartões de crédito e débito representam 40% do consumo das famílias e a expectativa é de chegar a 60% até 2022. Temos mais de 100 milhões de cartões ativos e mais de 10 milhões de terminais no Brasil, ou seja, uma indústria que funciona bem e é consolidada.

A digitalização do auxílio emergencial do governo é outro exemplo de inovação no setor. Mais de 1,3 milhão de máquinas da Getnet, com leitor de QR Code, já estão aceitando pagamentos por meio do cartão de débito virtual, que distribui o auxílio emergencial para trabalhadores informais, microempreendedores individuais, autônomos e desempregados. Com essa medida, vamos tirar muitas pessoas das filas para sacar o benefício de forma presencial. O QR Code é uma espécie de código de barras que tem a capacidade de ser interpretado rapidamente para a realização de operações financeiras.

Não são apenas os smartphones que suportam o pagamento por aproximação. Os relógios inteligentes, smartwatches, também possuem tecnologia para realizar pagamento nessa modalidade.

Varejistas, bandeiras de cartão e fabricantes de celulares estão investindo pesado em soluções digitais de pagamento para acompanhar a mudança de comportamento da população, que agora procura formas de evitar contato com o dinheiro físico e cartões por conta da pandemia. 

Na corrida desenfreada pela transformação digital, o que não podemos perder de vista é o foco em entregar a melhor experiência para o consumidor final. A tecnologia é o meio que temos para atingir isso e proporcionar cada vez mais facilidades na hora de pagar uma conta. O grande desafio é democratizar o acesso a essa tecnologia e conseguir imprimir uma velocidade rápida de desenho e implementação de soluções. Essa é a verdadeira inovação.

* Pedro Coutinho é CEO da Getnet, empresa de soluções digitais de meios de pagamento do Grupo Santander. É também presidente da ABECS (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços). Formado em Administração Financeira pela INCOR Minas Gerais, com pós-graduação em Finanças pela Fundação Dom Cabral e MBA em Marketing pelo IBMEC. Possui especialização em Strategic IQ - Creating Smarter Corporations pela Harvard University (Boston) e em Marketing pela Kellog University (Chicago).

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