Knowledge management

Tema recorrente a partir do fim do século XX, a gerência do conhecimento, Knowledge Management, tem sido estudada e discutida sob variados aspectos. Entretanto, por causa da rapidez, da volatilidade e inconsistência das ideias, uma característica exacerbada da nossa época, a maioria dos que a discutem esquece de contextualizá-la; isto é, estão mais interessados em explicar o “quê” em vez do “porquê”. Por isso, cabe aqui citar Francis Bacon (1561-1626). 

[private] Não me parece cabível estudarmos KM sem falarmos das ideias de Bacon sobre o conhecimento humano e sobre Advancement of Learning. Há os que defendem e há os que denigrem Bacon, igual a tudo que diz respeito ao ser humano. Alguns o apontam como um dos pais da ciência moderna, outros o chamam de vendido, de politiqueiro; mas todos reconhecem a importância fundamental da obra de Bacon, como no texto abaixo, na reformulação da visão de conhecimento.

“O intelecto humano não é luz pura, pois recebe influência da vontade e dos afetos, donde se poder gerar a ciência que se quer. Pois o homem se inclina a ter por verdade o que prefere. Em vista disso, rejeita as dificuldades, levado pela impaciência da investigação; a sobriedade, porque sofreia a esperança; os princípios supremos da natureza, em favor da superstição; a luz da experiência, em favor da arrogância e do orgulho, evitando parecer se ocupar de coisas vis e efêmeras; paradoxos, por respeito à opinião do vulgo. Enfim, inúmeras são as fórmulas pelas quais o sentimento, quase sempre imperceptivelmente, se insinua e afeta o intelecto.”

E completa com magistral pertinência:

“Mas os maiores embaraços e extravagâncias do intelecto provêm da obtusidade, da incompetência e das falácias dos sentidos. E isso ocorre de tal forma que as coisas que afetam os sentidos preponderam sobre as que, mesmo não o afetando de imediato, são mais importantes. Por isso, a observação não ultrapassa os aspectos visíveis das coisas, sendo exígua ou nula a observação das invisíveis. Também escapam aos homens todas as operações dos espíritos latentes nos corpos sensíveis. Permanecem igualmente desconhecidas as mudanças mais sutis de forma das partes das coisas mais grossas (o vulgo sói chamar a isso de alteração, quando na verdade se trata de translação) em espaços mínimos.

Até que fatos, como os dois que indicamos, não sejam investigados e esclarecidos, nenhuma grande obra poderá ser empreendida na natureza. E ainda a própria natureza do ar comum, bem como de todos os corpos de menor densidade (que são muitos), é quase por completo desconhecida. Na verdade, os sentidos, por si mesmos, são algo débil e enganador, nem mesmo os instrumentos destinados a ampliá-los e aguçá-los são de grande valia. E toda verdadeira interpretação da natureza se cumpre com instâncias e experimentos oportunos e adequados, onde os sentidos julgam somente o experimento e o experimento julga a natureza e a própria coisa”.

Problemas que afligem nossa sociedade imediatista, cuja sofreguidão impõe males de difícil cura para todos nós. As tecnologias vêm em primeiro lugar. O “fazer” tem prevalência sobre o “saber”. Nem bem compramos a última versão de qualquer “coisa” e a última versão já não o é.

A gerência do conhecimento seria a responsável por criar as condições para operacionalizar os seguintes verbos: identificar, capturar, integrar, guardar, recuperar e compartilhar conhecimento existente de forma latente e/ou ativa seja tácito e/ou explícito existente em qualquer tipo de organização.

A gerência do conhecimento seria responsável por nos preparar para enfrentarmos o dia a dia nas organizações. Infelizmente muitos, talvez a maioria, não entendam e nem estejam preparados para desempenhar o papel funcional (conjunto de conhecimentos, características, competências e habilidades) que lhes fora atribuído.

A informalidade e a desorganização dos processos, e o consequente despreparo das pessoas em qualquer tipo de organização, são frutos da ignorância de muitos e das más intenções de poucos em manter o status quo que lhes dá poder ao empregarem a máxima romana de dividir para governar.

Quando fazemos documentação, organização e melhoria de processos de negócio damos às pessoas conhecimento sobre suas respectivas responsabilidades, o que as torna mais produtivas e felizes ao entenderem a importância do próprio trabalho para o sucesso da organização.

Um excelente 2010 a todos! [/private]

 

* Texto escrito por Tadeu Cruz,  professor M.Sc.,  formado em Administração de Empresas; especialização em Engenharia de Sistemas e em Análise & Modelagem de Processos de Negócio. Mestre em Engenharia de Produção. Membro-pesquisador do GEACTE-FEA-USP e do Sage-Coppe-UFRJ  e da Escola de Engenharia Universidade Mackenzie.

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