O Conhecimento do Mundo está a sua disposição

De acordo com pesquisa realizada pelo IDC, em 2006, denominada “Expanding Digital Universe”, o total de informações digitais criadas, “capturadas” e replicadas foi de 1.288 x 1018 bits. Em linguagem de computador, isto representa 161 exabytes ou 161 bilhões de gigabytes, ou seja,3 milhões de vezes toda informação existente em todos os livros até agora escritos. Entre 2006 e 2010 estima-se que a informação que será adicionada ao universo digital aumentará em mais de seis vezes, ou seja, dos atuais 161 exabytes para 988 exabytes.

José Guilherme Souza: desde a criação do primeiro computador, o mundo enfrenta o desafio de preservar as informações para o futuro

[private]Os números superlativos não são exagero, mas uma demonstração clara de que são gerados milhões e milhões de dados diariamente, numa velocidade espantosa que seriam inconcebíveis sem que houvesse a invenção do computador.

“Desde a concepção do primeiro computador do mundo, o ENIAC - Electronic Numerical Integrator and Computer - o mundo enfrenta um novo desafio – garantir que suas informações e seus registros históricos, com o advento dos recursos computacionais, cada vez mais disponíveis e utilizados, sejam adequadamente preservados e sua recuperação esteja garantida no futuro, a qualquer tempo”, observa José Guilherme Junqueira Dias de Souza, presidente da Xplor Associação Brasileira de Usuários de Sistemas de Documentação e Impressão Eletrônica.

Segundo ele, este fato torna-se mais relevante visto “a evolução galopante da tecnologia e a dependência, cada vez maior, de meios físicos (hardware) e não-físicos (software) para a adequada preservação e disponibilidade da informação”, acrescenta.

Para Humberto Celeste Innarelli, professor da UNIP e Analista de Desenvolvimento Sistemas e Administrador de Rede Arquivo Central do Sistema de Arquivos da UNICAMP, é preciso que fique claro que preservação de documentos, é uma referência a um conjunto de ações e procedimentos, chamados de Políticas de Preservação Digital e não deve ser confundido com as mídias digitais.

“A mídia digital é apenas um dos pilares da preservação, mas o simples fato de utilizarmos mídias de alta qualidade e com alta confiabilidade, não garante a preservação da documentação digital, já que ela é apenas o suporte para a informação armazenada. O documento deixará de existir caso algum dos elementos  que o compõe seja o software, o hardware ou a mídia não estejam presente, ou seja, o documento digital não existe se não forem observados os três elementos base”, contextualiza o professor.

Mídias versus Tempo

 

“As informações, em um passado bem distante, tiveram sua perenidade garantida ao serem gravadas em meios físicos. Os registros através de pinturas nas cavernas, cunhados em pedras ou pedaços de madeira, papiros e papéis, discos de vinil, filmes fotográficos e películas cinematográficas, entre tantos outros, preservaram informações vitais para o conhecimento e crescimento da humanidade durante milênios, entretanto todos estes meios são eminentemente analógicos”, diz Jose Guilherme.

No entanto, hoje, o que é mais conhecido como “veículo” para preservação, paralelamente, aos meios analógicos como o papel, são as mídias digitais. Se a mídia digital é o suporte da informação, isto é, onde de fato a informação está armazenada fisicamente, quando a mídia digital apresenta algum tipo de problema, é fato que o documento digital pode ser comprometido de forma definitiva.

Uma dúvida comum entre os que iniciam os processos de preservação de documentos, conforme esclarece o professor Innarelli, seja para o mundo acadêmico seja para o mundo corporativo, é a vida útil de uma mídia. “A resposta a esta pergunta não passa somente por uma única mídia de preservação, mas por um conjunto de mídias de preservação para um mesmo documento digital, podendo ser adotado mídias de CD’s em conjunto com mídias de DVD’s, ou CD’s em conjunto com HD’s, entre outras combinações. O que vai determinar a confiabilidade do documento digital armazenado nestas mídias, é a “soma” das confiabilidades das mídias, a qual poderá ficar próxima de 100 %.”, ensina o professor.

Segundo estudos realizados pelo especialista sobre confiabilidade de CD-ROM e CD-R, constatou-se que a manutenção da informação no suporte e sua confiabilidade em relação a mídia, dependem de vários fatores, entre eles: a temperatura; a umidade relativa do ar; tempo de uso; a qualidade da mídia; campos magnéticos, manipulação e a poluição. Ou seja, é muito importante a qualidade da mídia a ser utilizada.

Diante de sua experimentação o professor Innarelli é categórico ao afirmar que “é a determinação da confiabilidade de um sistema de mídias de digitais, aliada a uma metodologia de confiabilidade que vai garantir o nível aceitável de confiabilidade para o armazenamento físico do documento digital e não uma única mídia”, assegura.

Para o estudioso, o que vai garantir a preservação digital é a política de preservação digital implementada pela empresa, pois todo e qualquer documento digital, independente do formato ou mídia está sujeito à obsolescência tecnológica, outro fator inexorável da preservação, cujo exemplo clássico são os disquetes flexíveis de ¼”, bastante usados nas décadas de 80 e 90.

“Ouso dizer que a tecnologia, por si só, não garante a preservação digital, neste sentido, oriento que não existe tecnologia capaz de garantir a preservação dos documentos digitais por 100 anos, 1.000 anos etc”, acrescenta Innarelli.

Além das mídias

 

O caminho a ser tomando num futuro próximo, conforme indicado por vários estudiosos, é que haja uma migração contínua dos documentos digitais ao longo do tempo, sempre observando mídias consideradas estáveis e confiáveis para o armazenamento destes documentos digitais.  “Quanto ao formato, a mesma migração deve acontecer sempre levando-se em consideração formatos que garantam a autenticidade dos documentos digitais e suas propriedades base. E para isso, sempre é indicado a utilização de formatos estáveis e abertos”, orienta Innarelli.

Outra questão interessante que sempre é abordada  é a possibilidade de transformar os documentos digitais em analógicos para fins de preservação. “Não podemos levar esta teoria em consideração, pois nem sempre os meios analógicos que temos disponíveis hoje permitem garantir todas as funcionalidades dos documentos digitais gerados”, explica o professor.

“Na minha opinião, o mundo, mais uma vez, está passando por mudanças na forma de registro da informação, pois hoje, produzimos e geramos documentos digitais de forma natural (exemplo: fotografia digital) e nem sempre nos damos conta que estamos mudando a forma de registro da informação a qual deixa de ser armazenada em negativo ou papel e passa a ser armazenada em memórias, discos etc. Esta nova forma de registro coloca em risco a nossa memória, seja ela, acadêmica, pessoal ou empresarial”, diz.

Innarelli: Empresas estão dando os primeiros passos em direção a uma política de preservação digital

A era da Sociedade da Informação traz a facilidade de geração de dados, informações e documentos, ao mesmo tempo que  ocorre a perda destas informações, pois a humanidade ainda não tem prática e nem experiência para a memória digital. Memória que está sendo perdida a cada dia em virtude da obsolescência das tecnologias, da deterioração das mídias digitais e principalmente pela falta de políticas de preservação digital.

A perda destas informações pode deixar uma grande lacuna histórica, pois muitas pesquisas podem deixar de existir por não haver material suficiente para consulta, isso se reflete diretamente em um arquivo permanente, o qual não está preparado para receber este tipo de documento e conseqüentemente preservá-lo e acessá-lo.

A atenção e a definição de políticas de preservação digital e o acompanhamento da tecnologia deve acontecer de forma a manter sempre atualizados os registros digitais gerados atualmente. É neste sentido deve-se estar atento aos avanços tecnológicos.

“A minha visão em relação a preparação das empresas em âmbito para a preservação digital ainda é um pouco pessimista, pois percebo que a “voracidade” pela geração, legalização e acesso a informação digital ainda é muito maior que a preocupação da gestão e preservação desta mesma informação”, reitera o professor, “Em alguns casos específicos, percebo que algumas empresas e pessoas estão dando o primeiro passo para a questão da gestão e preservação da documentação digital, formulando políticas e normas de gestão e preservação”.

Uma tendência que pode ser deflagrada num futuro próximo está nas mãos das empresas desenvolvedoras de sistemas que poderão oferecer produtos, já criados com mecanismos e princípios da preservação digital. “Ainda não consegui ver nada no mercado que abordasse a questão da preservação digital, mas seria um grande campo a ser explorado pela indústria”, pondera o professor .

Se filmes, fotografias, narrações de fatos históricos, livros, televisão, músicas e uma infinidade de informações já são produzidas em formato digital, há uma conseqüente elevação da preocupação de empresas, governo e até mesmo dos cidadãos, quanto à necessidade da definição e adoção de políticas de preservação digital, como forma de preservação do conhecimento e da memória da humanidade. “Afinal, devemos garantir que daqui á alguns anos nossos filhos, netos e bisnetos consigam conhecer a história de nossas famílias e que tenham acesso aos filmes e fotografias que hoje produzimos digitalmente”, reforça José Guilherme de Souza.

Uma vez que a preocupação já existe, várias instituições voltaram sua atenção ao estudo e ao debate de soluções. Os resultados do DML (Données Lisibles par Machine) – Fórum  realizado em 2002, na cidade de Barcelona; o Projeto de Carta de Preservação do Patrimônio Digital, elaborado pela UNESCO, que defende, com argumentos convincentes, a necessidade da preservação digital e da promoção de uma política pública que supere os âmbitos restritos das diretrizes técnicas e práticas, e a Carta para a Preservação do Patrimônio Arquivístico Digital, documento de apoio à iniciativa da UNESCO, emitido pelo CONARQ - Conselho Nacional de Arquivo, órgão colegiado, vinculado ao Arquivo Nacional da Casa Civil da Presidência da República do Brasil, demonstram as preocupações da sociedade, em todas as partes do mundo, com relação a assunto de interesse e importância praticamente imensuráveis.

O tema é bastante recente e deve ser discutido intensamente antes dos estudos proporem qualquer fórmula, ao mesmo tempo, não há como esquecer da documentação digital que  já está sendo produzida atualmente.

Os 10 mandamentos da preservação digital

1  Manterás uma política de preservação

2  Não dependerás de hardware específico

3  Não dependerás de software específico

4  Não confiarás em sistemas gerenciadores com única forma de acesso ao documento digital

5  Migrarás seus documentos de suporte e formato periodicamente

6  Replicarás os documentos em locais fisicamente separados

7  Não confiarás cegamente no suporte de armazenamento

8  Não deixarás de fazer backup e copias de segurança

9  Não preservarás lixo digital

10        Garantirás a autenticidade dos documentos digitais

 

Quem está estudando a Preservação Digital

Existem alguns grupos, projetos e padrões nacionais e internacionais
que abordam a questão da preservação digital.

 

No Brasil:

•  CTDE - Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos do Conselho Nacional de Arquivos (CTDE/CONARQ)

•  GDAE - Grupo de Trabalho para a Padronização de Procedimentos Técnicos para Preservação e Acesso de Documentos Arquivísticos Eletrônicos da Unicamp

 

No Exterior:

•  OAIS - Open Archival Information System

•  Interpares - International Research on Permanent Authentic Records in Electronic Systems (Interpares)

•  Dirks - Designing and Implementing Recordkeeping Systems (Dirks)

•  MoRec - Modelo de Requisitos para a gestão de arquivos eletrônicos (MoReq),

•  DoD - Department of Defense Records Management Program (DoD 5015.2-STD)

A CTDE/CONARQ publicou recentemente o chamado e-ARQ Brasil que é o MODELO DE REQUISITOS PARA SISTEMAS INFORMATIZADOS DE GESTÃO ARQUIVÍSTICA DE DOCUMENTOS, o qual também aborda requisitos de preservação digital. A CTDE também publicou a Carta para a Preservação do Patrimônio Arquivístico Digital Brasileiro - Preservar para Garantir o Acesso e o Glossário de Documentos Eletrônicos. [/private]

Agradecimento ao Prof. Dr. Paulo Sollero, ao Arquivo Central do Sistema de Arquivos da UNICAMP e a Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos do Conselho Nacional de Arquivos.

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