Por que os dados devem ser protagonistas no ambiente corporativo

Hoje, a grande maioria dos líderes sabe que precisa ter em mãos dados que meçam o negócio, e que sejam utilizados como suporte na tomada de decisão. No entanto, isso nem sempre é uma prioridade. De acordo com um estudo recente da multinacional Dell, em conjunto com a Forrester, cerca de 73% das empresas nacionais entrevistadas afirmam ter um negócio orientado por dados. No entanto, somente 28% destas consideram o tratamento de dados como uma prioridade.

O estudo aponta que os líderes entendem a importância da utilização dos dados mas continuam não investindo no seu tratamento e geração de insights para o negócio. “Esse tratamento deve ser acompanhado dos cuidados com as questões regulatórias. As organizações precisam se atentar para o tratamento das informações mantendo a proteção das mesmas”, analisa o especialista em transformação digital Carlos Baptista.

Essa questão passou por mudanças recentes, com a LGPD -- Lei Geral de Proteção de Dados, que entrou em vigor em 2020. A lei estipula regras que devem ser cumpridas quando os dados pessoais dos clientes forem coletados, tratados, armazenados e compartilhados pelas companhias. No entanto, esse tema não deve ser um obstáculo para o tratamento dos dados e sim um direcionador para que o tratamento seja feito corretamente. “O principal desafio é transformar tais dados em informações e análises preditivas, que suportem a definição de estratégias e essa é a grande razão para que as organizações invistam menos nesse tratamento”, comenta Baptista.

E por que hoje é mais importante priorizar esse tratamento de todos os dados existentes, se as empresas sempre cresceram sem esse foco?

Mudança de mindset organizacional

Vivemos em uma era onde as pessoas têm mais conhecimento acessível e, consequentemente, priorizam o valor que recebem, ou percebem quando consomem um determinado produto. “Essa é uma das ‘chaves’ da transformação digital e é o grande diferencial num mercado cada vez mais competitivo. Por isso, cada vez mais, é preciso apostar na análise e na interpretação dos dados para entendermos o comportamento das pessoas e os impactos no resultado”, explica o especialista.

Sendo assim, os líderes devem começar a mudar alguns aspectos no dia a dia da empresa. O primeiro passo é treinar ou apostar em papéis como engenheiros de dados e cientistas de dados, profissionais que atuam tanto na técnica quanto na estratégia de negócio. Muito se tem apostado no desenvolvimento ou adoção de novas plataformas, aplicativos, portais etc. Isso deve ser feito em paralelo com o crescimento da equipe de profissionais que armazena e trata os dados, alinhando com a estratégia do negócio. Para Baptista, esse papel deve se transformar “em uma cultura de utilização de dados que permeia toda a organização, interpretar os dados e entender os resultados não pode ser restrito a uma única equipe”.

Do mesmo modo que precisamos ter uma cultura de dados, precisamos gerenciar e direcionar o negócio de modo mais flexível. Para isso é crucial adotar também uma cultura de business agility. “O mindset precisa ser mais ágil para evitar desperdício e antecipar o valor entregue. Essa agilidade nos permitirá idealizar, prototipar e experimentar o novo. Em um mundo em constante mudança esse pode ser o grande diferencial em gerar a disrupção e consequentemente trazer mais resultado” ressalta Baptista.

Com esse novo mindset e uma cultura de dados, torna-se possível não somente analisar a performance da empresa como também criar diferencial. “A grande maioria das organizações entra em “pânico” quando avalia resultados e verifica que a concorrência está se destacando. Nesses casos, a tendência é partir para a criação de novas ferramentas ou fazer grandes mudanças para alcançar a concorrência, ao invés de analisar as informações e verificar o que precisam fazer para se destacar nos aspectos que a concorrência não está focando”, sugere ele.

Criação de nova cultura interna

Outro aspecto importante, na visão do especialista, é a mudança de cultura organizacional. As novas empresas precisam se basear numa cultura de respeito, protagonismo, integração e colaboração. A comunicação precisa ser ampla e aberta para que todos os profissionais saibam de onde a organização está vindo, qual o seu estágio atual e para onde irá. “Por outro lado, o protagonismo de todos os profissionais irá incentivar e gerar a onda de transformação permitindo que a companhia tenha um crescimento mais sustentável”, prevê Baptista.

Como referido pelo matemático londrino Clive Humby, “dados são o novo petróleo”. Essa riqueza não vem somente do armazenamento dos dados, mas sim do que as organizações fazem com eles e como os analisam. “Algumas décadas atrás, as maiores empresas do mundo eram companhias petrolíferas. Estas acabaram por ser substituídas por empresas como Google, simplesmente porque elas têm e sabem como analisar tais dados. E esse conhecimento foi o motor do crescimento, junto às mudanças culturais que facilitam a interpretação de dados”, finaliza.

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