*Por Wendy Walsh
É fato que o cenário da saúde mudou significativamente nos últimos anos. Reflexo não só da necessidade de acompanhar todos os avanços científicos e tecnológicos, que têm ocorrido em ritmo acelerado, como também de preparar os prestadores de cuidados médicos para atender às novas exigências, no que diz respeito à qualidade, segurança e eficiência do atendimento aos pacientes. Outro ponto importante é que cerca de 50% do conhecimento médico, especialmente aquele relacionado diretamente a tratamentos, torna-se obsoleto apenas quatro anos após a graduação do profissional de saúde. Além disso, em uma revisão sistemática, 45 de 60 estudos que analisaram resultados clínicos encontraram uma queda no desempenho mesmo entre médicos com mais anos de experiência. Esses dados em nível mundial mostram que, ao contrário do que muitos imaginam, a prática não elimina a necessidade de renovar o aprendizado.
Atualizar-se é, portanto, imperativo. Os programas de educação médica continuada, em suas diversas frentes, surgem exatamente para responder a esses desafios e, principalmente, para agregar conhecimento científico à prática clínica e, quanto mais fácil o acesso, maior o impacto. Isso porque a exaustiva rotina do dia a dia e a indisponibilidade de tempo, associadas aos custos elevados e até mesmo à dificuldade de mobilidade acabam inibindo e até inviabilizando a participação dos profissionais da saúde em eventos científicos, congressos e outros tipos de situações em que estar presente fisicamente é primordial.
Investir em novas abordagens de capacitação para aproximar o médico do conhecimento é compulsório. Além da educação à distância, neste cenário, o uso constante dos recursos de apoio à decisão clínica são uma excelente alternativa não só para o profissional da saúde optar por um determinado tratamento, como para ampliar o seu conhecimento. Esse tipo de ferramenta, graças a uma série de vantagens práticas como, por exemplo, a possibilidade de ser acessada por dispositivos móveis e de integrar-se com prontuários eletrônicos, permite o aprendizado à beira do leito, em tempo real. Sem falar que combina tecnologia e plataformas de publicação avançada a um rigoroso e sofisticado processo editorial, gerido por autores médicos e editores especialistas.
Outro ponto interessante é o fato de existir um elevado grau de comprometimento com a qualidade da informação, ampliando o leque de possibilidades de diagnósticos e assegurando a aplicação de critérios validados. Um estudo realizado pelo Mayo Clinic com um desses recursos evidenciou que 20 minutos por dia de pesquisa aos conteúdos disponíveis equivalem a um ano inteiro de residência, impactando nos resultados durante exames de avaliação.
Em todo o mundo, associações e sociedades médicas das mais diversas especialidades reconhecem as consultas realizadas em recursos de apoio à decisão clínica como créditos de EMC para o desenvolvimento profissional contínuo e para as revalidações necessárias. É o caso do Royal College of General Practitioners (RCGP), associação que reúne os médicos com especialidade em clínica geral do Reino Unido e permite aos associados utilizarem este tipo de ferramenta a fim de revalidar suas licenças. Mais próximo à realidade do Brasil temos o exemplo do Colégio de Medicina Interna de México A.C. (CMIM), uma das universidades de medicina de maior destaque na América Latina. A instituição conseguiu que a FEMECOG, federação que conglomera as instituições de ensino de obstetrícia e ginecologia, acreditasse um recurso de apoio à decisão clínica como ferramenta utilizada para ajudar os profissionais médicos a atingirem os seus objetivos de formação continuada.
No Brasil, ainda não existe um padrão estabelecido capaz de redimir esses créditos de EMC e muitas instituições desconhecem essa rica utilização. O que acontece é que alguns hospitais, mesmo que em pequena proporção, empregam esse tipo de recurso em programas próprios, utilizando os relatórios de acessos gerados por essas ferramentas para nortear ações e até para verificar quais conhecimentos são mais buscados. Além disso, um indicador inicial positivo de progresso é que algumas sociedades já estão começando a explorar o reconhecimento de tópicos lidos em sistemas de apoio à decisão clínica como uma atividade de EMC válida.
Embora ainda exista um longo caminho a percorrer, existe uma forte expectativa e mesmo a necessidade de criarem-se padrões locais que permitam redimir esses créditos. Para isso, é preciso que as acreditações deixem de ser voluntárias e tornem-se obrigatórias e, principalmente, que as sociedades reconheçam o valor dos recursos de apoio à decisão clínica ao proporcionar acesso fácil à informação e conhecimento científico de qualidade. Quanto mais rápido for esse processo, maiores serão as chances de ampliar os horizontes e romper barreiras do conhecimento.
* Wendy Walsh, é gerente de Educação Médica Continuada da Wolters Kluwer Health.