É difícil abrir um jornal ou revista sem ler algo sobre Inteligência Artificial (AI). As discussões incluem desde quem tem preocupações sobre questões como emprego e segurança até aqueles que acham que a AI promete grandes saltos de produtividade e, em muitos casos, a solução para alguns dos desafios mais difíceis enfrentados pelo mundo, como as alterações climáticas.
A realidade do impacto da AI é, no entanto, um pouco diferente. Como uma das principais empresas de consultoria de tecnologia do mundo, nós da Tata Consultancy Service (TCS) estamos profundamente interessados no impacto dessa tecnologia emergente e temos feito grandes investimentos para compreender o que está em jogo — as oportunidades e os desafios, os líderes e os seguidores.
Algumas empresas estão puxando a fila e fazendo grandes investimentos em TI. A gigante da tecnologia, Apple está realizando apostas por meio da Emotient, sua recente aquisição de AI para reconhecimento facial, com o propósito de melhorar a reação a anúncios. A Shell, outra gigante no setor de petróleo e gás, lançou um assistente virtual online para responder às dúvidas dos clientes. Outras empresas estão "esperando para ver" enquanto avaliam onde terão o maior retorno. De qualquer forma, nosso Estudo de Tendências Globais, para o qual foram entrevistados quase mil dos maiores tomadores de decisão em todo o mundo, de treze setores industriais diferentes, descobriu que há uma crença avassaladora na AI.
Mais de quatro em cada cinco empresas (87%) encaram a AI como "essencial", e quase metade a veem como uma tecnologia "transformadora". Isso foi especialmente declarado na Europa e na América do Norte, regiões que têm sido líderes no investimento nessa área nos últimos anos, com o gasto médio atingindo 73 milhões e 80 milhões de dólares na Europa e nos EUA, respectivamente.
Os compromissos financeiros com a AI devem crescer consideravelmente, com 7% dos líderes empresariais que planejavam investir, no mínimo, 250 milhões de dólares em 2016 e mais outros 2% já destinando 1 bilhão de dólares à AI por volta de 2020. Esse apetite pelo investimento em AI e a apreciação de seu impacto têm uma influência importante sobre as futuras decisões de negócios em quatro áreas principais:
Em primeiro lugar, as empresas que investirem agora obterão uma vantagem. Os líderes em AI que estão fazendo os maiores compromissos têm potencial para ultrapassar os demais, tamanho o impacto transformador dessa tecnologia.
Isso é importante porque muitos acreditam que estamos em um ponto de inflexão para a tecnologia, que começará muito rapidamente a afetar a forma como as coisas são feitas, bem como a produtividade e a eficiência das organizações que fizeram os investimentos. A vantagem comparativa será aguda.
Em segundo lugar, embora as empresas reconheçam o valor, ainda há uma grande falta de compreensão sobre onde a AI está tendo o maior impacto e alguma confusão sobre onde investir. Nosso estudo descobriu que o usuário mais frequente da AI, atualmente, é o departamento de TI, com mais de dois terços (68%) das empresas usando a AI nessa área. No entanto, quando se perguntou sobre previsões futuras, os líderes empresariais viram crescimento em quase todos os setores de uma operação comercial. Até 2020, as empresas preveem que o impacto da AI se expandirá em proporções iguais para áreas como pesquisa e desenvolvimento, produção, operações corporativas, planejamento estratégico, recursos humanos, distribuição, compras e departamentos jurídicos.
A amplitude do impacto, ao que parece, não deixará quase nenhuma área operacional intocada. Isso representa, ao mesmo tempo, uma oportunidade enorme e um assustador processo de tomada de decisão para os líderes empresariais. Entretanto, uma coisa está clara: a previsão é de que os níveis de investimento vão decolar e ficar parado não é uma opção.
Em terceiro lugar, nosso estudo aponta para o potencial de consequências não intencionais igualmente importantes que os líderes e a sociedade em geral precisarão enfrentar e resolver. A fundação da Parceria de AI (em inglês, ‘AI Partnership’) no início deste ano - uma colaboração entre gigantes da tecnologia como Facebook, IBM, Google, Amazon e Microsoft, dedicada ao avanço da compreensão pública sobre o setor e à elaboração de normas para futuros pesquisadores seguirem - demonstra o grau de seriedade com que a comunidade de tecnologia está encarando isso.
Todavia, enquanto o setor de tecnologia está fazendo avanços positivos para construir a compreensão e criar quadros de colaboração sobre questões como a ética das tecnologias cognitivas, é a própria comunidade de negócios que precisa correr atrás.
Talvez uma das maiores preocupações seja o impacto que a AI poderia ter sobre os empregos, no entanto, o estudo da TCS aponta que esse receio pode ser exagerado. Por exemplo, entrevistamos uma série de empresas em nosso estudo, incluindo a Associated Press, que usou a AI para automatizar a redação de mais de três mil artigos curtos sobre divulgação de resultados trimestrais. A rede de notícias não perdeu nenhum posto de trabalho. Em vez disso, seu sistema liberou a equipe para trabalhar em artigos mais interessantes e reflexivos, de posse de conhecimentos mais profundos. Além disso, novos postos de trabalho foram criados para gerenciar a tecnologia de AI e manter os dados limpos.
Seria hipocrisia afirmar que não há questões importantes a resolver, especialmente no que diz respeito ao impacto sobre os empregos. Mas nosso estudo parece indicar uma avaliação relativamente otimista: os líderes empresariais identificam uma influência positiva, com maior geração de valor e funções mais envolventes, além de postos de trabalho inteiramente novos. Não podemos ser complacentes, mas as expectativas dos líderes empresariais reveladas em nosso estudo rebatem alguns dos pressupostos negativos que as pessoas têm sobre essa área.
A quarta área em que a AI possui um grande impacto é a maneira como as próprias funções de TI operam. A AI é apenas uma entre as muitas áreas da tecnologia que estão transformando os negócios — desde a Internet das Coisas até o Big Data e os aplicativos móveis. Trabalhando com organizações de todos os tamanhos vemos cada vez mais a necessidade de encontrar uma maneira de integrar essas partes móveis. Apesar de não haver uma solução fácil, tenho a firme convicção que uma boa parte da resposta está na criação de um núcleo digital robusto, com as bases a partir das quais soluções digitais e aplicações possam ser construídas. Isso inclui tudo: desde sistemas prontos para um mundo digital até aplicações de última geração, e desde uma abordagem que prioriza a nuvem até uma sólida segurança. Trata-se de igualmente preparar o local de trabalho e assegurar que a organização conte com as pessoas e habilidades certas.
Todos nós temos a responsabilidade de pensar sobre as oportunidades e encontrar soluções para os desafios. De minha parte, eu acredito que todos nós teremos grandes ganhos no futuro se abraçarmos esse novo paradigma da maneira certa.